segunda-feira, 23 de junho de 2014


Nível de Atividade - 1º trimestre 2014

Autores: Cláudia Emília Bianchin, Elionai Rodrigues e Thais Mozer
Orientador do Subgrupo: Prof. Adriano Lopes Almeida Teixeira

Análise do PIB

No último resultado do PIB, divulgado no dia 30 de maio, o IBGE fez uma revisão das séries trimestrais de 2013. A alteração ocorreu na nova série de índices de produção industrial que foi elaborada baseada na pesquisa Industrial de Produção Física (PIM-PF) reformulada. Essa mudança metodológica passou a incluir novos produtos, recalculou os pesos dos setores dentro da produção total e aumentou o número de empresas que fornecem informações. Com isso, o PIB a preço de mercado de 2013 que apresentava uma variação positiva de 2,3% passou a ser 2,5%. As maiores alterações nos resultados são notadas no setor da indústria que teve um aumento (de 1,3% para 1,7%) sob a ótica da produção. Já sob a ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo apresentou queda, passando de 6,3% para 5,2%. Outros resultados alterados estão resumidos na Tabela 1.1.

Em relação aos dados divulgados pelo IBGE para o primeiro trimestre de 2014, o PIB manteve-se praticamente estagnado, com uma variação de apenas 0,2% em comparação com quarto trimestre de 2013. Em valores correntes, esse resultado foi de R$ 1.204,1 bilhões. Já em comparação com o primeiro trimestre do ano anterior, houve um aumento de 1,9%. Tal resultado indica que a economia brasileira está em desaceleração, a qual foi iniciada no terceiro trimestre de 2013. Os resultados do PIB acumulado (com ajuste sazonal) encontram-se resumidos no Gráfico 1.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou que muitos foram os fatores negativos que prejudicaram o desempenho do PIB, dentre eles: a seca, recuperação lenta da economia internacional, baixo crescimento da Europa, volatilidade cambial e aumento da inflação. 

Sob a ótica da produção, o setor de destaque foi a Agropecuária que obteve um aumento de 3,6% em comparação com o trimestre anterior (em valor corrente R$ 61,7 bilhões). Segundo o IBGE, a explicação desse desempenho está relacionada com alguns produtos que possuem safra significativamente relevante e pela produtividade durante o período, como a soja, arroz, algodão e fumo. Esse resultado surpreendeu, já que se esperava um crescimento menor devido às secas que aconteceram nessa mesma época. Nota-se que esse resultado acabou sendo contraditório com a explicação dada pelo Ministro da Fazenda, mostrando que parte do argumento dele não procede.
A indústria apresentou uma queda de 0,8% em relação ao quarto trimestre de 2013. Em valor corrente, o resultado foi de R$ 241 bilhões. O subsetor de construção civil teve uma retração de 2,3%, e o destaque foi eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, com um aumento de 1,4%. Esse último subsetor teve seu crescimento influenciado pelo calor forte que ocorreu durante o período, o que forçou a população a consumir mais energia. A indústria foi o setor que travou o crescimento do PIB no primeiro semestre de 2014.
O setor de Serviços teve uma variação positiva de 0,4% em comparação com o trimestre anterior. Vale destacar que o subsetor de comércio teve uma queda de 0,1%, se mantendo praticamente estável em relação ao período anterior. 
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias sofreu uma queda de 0,1% se comparado com o quarto trimestre de 2013. Em valor corrente o resultado foi de R$ 788,6 bilhões. Esse consumo tem um impacto grande sobre o PIB, já que representa cerca de 65% desse índice. Tal resultado não é de se surpreender, já que o Brasil passa por um cenário macroeconômico de inflação alta (reduz o poder de compra da população). Em relação ao mesmo trimestre de 2013, houve um aumento de 2,2%, que é explicado, de acordo com o IBGE, pelo fato de que os salários obtiveram um aumento real de 4,0% no primeiro trimestre de 2014.  
A formação bruta de capital fixo teve uma variação negativa de 2,1%, correspondendo a R$ 213,1 bilhões. Em comparação com o mesmo trimestre de 2013, a variação negativa foi de 2,10.
Já o consumo do governo teve uma variação positiva de 0,7% (R$ 242,7 bilhões em valores correntes). Em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, ocorreu um aumento de 3,4%.


Um dado a se destacar é taxa de investimento que ficou em 17,7% do PIB, abaixo do observado no mesmo período de 2013 (18,2%). Somado a isso, a taxa de poupança, que é um bom parâmetro para medir a capacidade de investir, ficou em 12,7% ante aos 13,7% do mesmo período do ano anterior. Esses resultados são bastante preocupantes, e põem a dúvida se o Brasil terá condições de crescer com uma taxa de investimento baixo.  
Com um cenário de política monetária contracionista, demanda externa menor e incertezas políticas gerada pelas eleições, não se pode esperar que de fato ocorra um crescimento significativo nos próximos trimestres de 2014. Não é a toa que a ONU reduziu a expectativa do PIB de 2014 para 1,7%, sendo que antes a expectativa era 3,0%. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também reduziu suas projeções de 2,2% para 1,8%, que é igual a do FMI. Já o Banco Central espera um crescimento mais otimista de 2,0% e o governo espera 2,3%. 

Indústria Nacional

Com a nova metodologia implementada pelo IBGE, em maio de 2014, registrou-se um aumento na produção industrial do ano de 2013, passando de um crescimento de 1,2% para 1,7%. 
Referente ao índice acumulado do período de janeiro a março de 2014, em comparação com igual período do ano anterior, a indústria nacional teve uma variação positiva de 0,4%.


Os setores que influenciaram negativamente no desempenho da indústria nacional no primeiro trimestre foram produtos de metal (-7,7%), produtos têxteis (-5,3%), máquinas, impressão e reprodução de gravações (-4,8%), aparelhos e materiais elétricos (-4,6%), couros e calçados (-3,6%), fumo (-3,5%), móveis (-3,7%) e outros produtos químicos (-1,2%). Outro setor apontado como responsável ao desempenho pífio da indústria é o automobilístico (-6,3%), podendo ser observado pela diminuição das vendas e o consequente aumento dos estoques. Esse resultado pode ser explicado, em parte, pelas medidas de restrição de crédito para o financiamento de carros devido à alta inadimplência registrada no ano anterior, contribuindo assim para a diminuição da produção.
Além disso, o setor de construção civil tem registrado poucos investimentos, representando uma diminuição nas obras de infraestrutura e na produção de bens de capitais e, também, contribuindo para a redução nos postos de emprego desse segmento. 
Por outro lado, os bens de consumo duráveis apresentaram resultados positivos (3,4%), dinamizados pela maior fabricação de eletrodomésticos da linha marrom, que pode ser explicado, em parte, devido a maior demanda de aparelhos de televisão com o advento da Copa do Mundo. Já o crescimento do setor de bens de consumo não-duráveis (2,8%) deveu-se notadamente pelo aumento na produção de medicamentos e gasolina automotiva.


Indústria Capixaba

O IBGE anunciou que a partir do mês de maio de 2014 foi implementada uma reformulação da série de índices mensais da produção industrial, elaborados com base na Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF). Essa nova metodologia é mais abrangente, passando de uma amostra de 830 produtos e 3.700 unidades locais para 944 produtos e 7.800 unidades locais. Dentre os objetivos previstos da nova metodologia estão compreendidos a elaboração de uma nova estrutura dos índices com bases em estatísticas industriais mais recentes, a fim de adequar-se à Classificação Nacional de Atividades Econômicas 2.0 e atualizar a amostra de atividades, produtos e informantes.
No índice acumulado do primeiro trimestre deste ano, frente a igual período do ano anterior, a produção da indústria capixaba teve um recuo de 4,0%. O principal setor que contribuiu para essa queda na produção foi o setor de metalurgia (-21,2%), seguida pelas indústrias de produtos alimentícios (-9,5%) e extrativas (-2,3%). O único setor que apresentou um resultado positivo foi o de minerais não-metálicos (12,3%), visto que a atividade de celulose, papel e produtos de papel apresentou uma produção constante (0,0%).


Comércio Nacional

Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio/IBGE, o volume de vendas do comércio varejista nacional após dois meses consecutivos de crescimento, apresentou, no mês de março, um decréscimo no ritmo de vendas de 1,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Essa queda pode estar relacionada com a redução dos dias úteis, tendo em vista que o carnaval esse ano foi em março e possivelmente ao aumento da inflação em alguns setores. A atividade Hipermercados, Supermercados, Alimentos, Bebidas e Fumo teve grande peso para essa variação negativa, que pode ter sido influenciada pelo aumento da inflação de alimentos. Em março, segundo IPCA, o grupo alimentação e bebida apresentou aumento de 1,92%.


No acumulado do ano, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 4,5%, enquanto a receita nominal cresceu 10,3%. A atividade Móveis e eletrodomésticos continua apresentando resultados positivos, apesar de uma significativa queda da atividade em relação a março/fevereiro, devido provavelmente à alta de preços no setor. Porém, o crescimento na atividade foi muito influenciado pelas compras antecipadas de televisores para a Copa do Mundo e subsídios do governo federal com o Programa Minha Casa Melhor   para compra desses produtos.
O comércio varejista ampliado, representado pelo comércio varejista mais os itens Veículos e motos, partes e peças e Material de construção apresentou no acumulado do ano crescimento de 2,1% no volume de vendas e crescimento de 7,2% na receita nominal. A atividade Veículos e motos, partes e peças apresentou um decréscimo de 3,8% no volume de vendas e uma queda na receita nominal de 1,2%, resultado muito influenciado pelas taxas negativas apresentadas no mês de março, onde a atividade teve o seu pior desempenho dos últimos 6 anos, registrado em 2008, período de crise mundial. Portanto, esse resultado pode ser atribuído ao aumento das alíquotas dos Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), ou seja, sua recomposição e uma maior restrição do crédito.
Por outro lado, a atividade Material de Construção no acumulado do ano apresentou crescimento tanto no volume de vendas quanto na receita nominal. A atividade desde o ano passado vem apresentando resultados positivos devido à continuidade das políticas governamentais para esse setor, como o aumento do limite do FGTS para financiamentos imobiliários, redução do IPI para alguns produtos.
Contudo, os resultados analisados na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostram que o crescimento no primeiro trimestre de 2014 não representa motivo para comemoração. O nível de atividade tíbio no comércio é um indicativo das condições e perspectivas pouco favoráveis para este setor, pois o alto custo de crédito faz com que o consumo perca a força influenciando diretamente algumas atividades que dependem do crédito. De acordo com os dados do Banco Central, em 12 meses encerrados em Março, o saldo de crédito com recursos livres cresceu 6,5%, porém em igual período do ano anterior o crescimento foi de 12%. Outro fator é a inflação que, em alguns setores de grande peso na taxa do varejo, também influencia para que a atividade não tenha um desempenho considerável.

Comércio Capixaba

 No acumulado do ano o comércio varejista do Espirito Santo apresentou crescimento de 1,1% no volume de vendas e de 6,6% na receita nominal. Porém, no comércio varejista ampliado os resultados foram todos negativos, com queda de 7,9% no volume de vendas e 3,6% na receita nominal. Dos estados brasileiros apenas quatro apresentaram variações positivas no comércio varejista ampliado, o que mostra que essa queda é uma tendência nacional. 
A atividade Hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo apresentou pior desempenho, enquanto a atividade Móveis e eletrodomésticos apresentou crescimento de 16%, indicando que o comércio capixaba vem seguindo a mesma tendência do comércio nacional em relação a atividades.
O mês de Março/2014 não apresentou resultados favoráveis para o Comércio Capixaba em relação ao volume de vendas que teve queda no comércio varejista de 4,3% e 13,1% no comércio varejista ampliado. Já a receita nominal do comércio varejista teve um crescimento de 1%.


Inflação - 1º quadrimestre 2014 

Autores: Hugo Rezende Tavares e Nathália Costa Azevedo
Orientador do Subgrupo: Profa. Renata Couto Moreira


Pelo terceiro mês consecutivo no ano de 2014, o IPCA apresentou trajetória crescente de forma acumulada em 12 meses (6,28%), apesar da sua breve redução registrada no mês de abril, quando foi observado um aumento de 0,67%, ante o dado obtido para o mês de março de 2014 de 0,92%. Os valores obtidos para os meses de fevereiro, março e abril já se mostram maiores que os dados obtidos para os mesmos períodos do ano passado (sendo estes respectivamente 0,60%, 0,47%, 0,55%) aumentando assim, preocupações quanto a capacidade do governo em manter a inflação abaixo do teto da meta para o ano de 2014. O índice acumulado no ano apresenta um valor de 2,86% frente a 2,50% observado no mesmo período do ano de 2013.

Entre os principais determinantes para o aumento da inflação neste ano de 2014, principalmente no mês de março, onde se observa uma disparada da alta do índice, destacam-se os grupos de alimentação e bebidas (que apresentou aumento de 1,92%) e transporte (cuja alta foi de 1,38%). No mês de abril, percebe-se uma desaceleração no índice destes dois grupos, sendo que o grupo de alimentação e bebidas apresenta aumento de 1,19% e transporte, de 0,32%.
Em relação às políticas econômicas do Brasil, notam-se claras tentativas do governo de conter o processo inflacionário. A inflação é um fator que vem sendo utilizado, de forma superestimada, para constantemente criticar o atual governo. Medidas de curto prazo vêm se destacando como ferramentas para frear as taxas de inflação. Já no início de 2013 o governo apresentou uma inversão da sua política monetária voltando a aumentar a taxa de juros. Desde em então, o aumento da taxa SELIC (hoje retornando aos dois dígitos de 11%) vem sendo usado como tentativa de conter o processo inflacionário que, no ano de 2013, já causava preocupações.
Apesar das declarações do governo de utilizar a taxa SELIC com o intuito de manipular a inflação, o governo tem tido sérias dificuldades em fazê-lo e não tem obtido o êxito esperado. Frente às dificuldades de conter a inflação, outra medida que vem sendo utilizada fortemente pelo governo neste quesito tem sido estratégias de políticas econômicas via taxa de câmbio. A utilização dos swaps cambiais tem sido fundamental em controlar a tendências de alta da taxa de câmbio. Desta forma, incentiva as importações e torna o nível de preços no Brasil refém dos níveis de preços internacionais.
Verificada esta alternativa, nota-se que o governo vem optando por realizar políticas de curto prazo para conter a inflação. Em conjunto, estes dois fatores expostos, permitem ver uma série de complicações para a economia brasileira, como o sufocamento da indústria nacional. Percebe-se o trade-off que o governo tem se mostrado disposto a fazer, abrindo mão de possíveis desenvolvimentos de longo prazo para apresentar benefícios de curto prazo.
Deve-se ter em mente que o ano de 2014 é um ano eleitoral. Isto sugere que medidas anti-inflacionárias serão implantadas constantemente no Brasil, visto que este tem sido propagado como o ponto fraco do governo Dilma. Medidas comprometendo a política fiscal, por exemplo, no caso de impostos indiretos, mais especificamente impostos sobre bebidas alcoólicas estão sendo adiados para evitar o repasse deste para os consumidores, “contendo” então o processo inflacionário. Esta questão é interessante pois o quesito de alimentação e bebidas têm contribuído com maior peso para o aumento de preços no Brasil.
Outro ponto bastante importante a ser considerado também, é que os grandes eventos a serem realizados, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, podem vir a contribuir fortemente para o aumento dos índices gerais de preço no mesmo ano. Portanto, as estratégias do governo estão se mostrando cada vez mais claras e convergindo para este ponto. Embora sem muito sucesso, uma das principais metas do governo Dilma para 2014, ainda é manter a taxa de inflação abaixo do teto da meta inflacionária. 
O INPC, indicador analisa o processo inflacionário, considerando famílias com rende entre 1 até 5 salários mínimos (diferentemente do IPCA que abrange famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos) apresenta dados com trajetória bastante parecida com os do IPCA. Mantendo-se relativamente estabilizado em janeiro e fevereiro (respectivamente 0,63% e 0,64%), a alta no mês de março parece ter afetado os mais diversos indicadores de inflação, elevando este índice para 0,82% e desacelerando de forma tímida no mês de abril para 0,78%.  Embora o acumulado em 12 meses do INPC se apresente menor que o IPCA (5,81% ante 6,28%), o índice acumulado no ano do INPC se mostra maior que o observado pelo IPCA. Ou seja, pode-se deduzir disto que as famílias de menores rendas estão sofrendo um impacto relativamente maior com a alta dos preços.
O IGP-DI dos quatro primeiro meses do ano está na casa de 3,1%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,76%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-DI, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,27%, acima do índice em 2013 que foi 2,58%.
2. IPA acumulado em 3,3%, novamente, acima de 2013 que foi de -0,18%.
3. INCC acumulado em 2,37%, contrapondo-se com o 2,49% do mesmo período do ano passado.
Fica claro que houve aumentos em dois dos três componentes do IGP-DI, sendo que a maior alta é diferença é do IPA e, como a ponderação dele é de 60%, acaba puxando o IGP-DI para cima.


Em relação a cada componente individualmente, o IPA foi o que teve a alta mais substancial, mostrando que há pressão sobre os preços dos custos de produção e, comparando com o IPC, vê-se que a pressão inflacionária localiza-se mais pelo lado da oferta do que da demanda. 
Observaram-se efeitos da taxa de câmbio sobre o IPA. Houve uma trajetória ascendente durante janeiro e fevereiro, culminando em R$ 2,4283. Durante fevereiro o real valorizou um pouco, mas nunca deixando a casa de R$ 2,30. Em março e abril, o real continuou numa trajetória de valorização. E esse vai-vem da taxa de câmbio coincide muito bem com a trajetória do IPA, mostrando que esse é um fator que esta dificultando o setor produtivo, fazendo a indústria perder a competitividade.
Há ainda outros fatores a serem considerados quando se trata do resultado do IPA, como o Decreto nº 8.166 de 23/12/2013 que reajusta o salário mínimo à partir do dia 1º de Janeiro de 2014 para R$724,00; isso causa um grande impacto na folha de pagamento das empresas.
O INCC foi o único que teve uma tímida redução, mostrando que os incentivos feitos pelas políticas fiscais ao setor de construção civil, numa tentativa de aquecê-lo, estão surtindo efeitos nos preços.

O IGP-M dos quatro primeiro meses do ano está em 3,31%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,99%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-M, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,21%, contra 2,60% de 2013.
2. IPA acumulado em 3,30%, bem acima do 0,21% no ano passado.
3. INCC acumulado em 2,37%, menor que os 2,53% em 2013.
Analogamente ao IGP-DI, tem-se como destaque o IPA, que apresenta a mesma ponderação do IGP-DI.


Pode-se atribuir às mesmas causas do aumento do IPA-M as causas descritas no IPA-DI, pois à principio, não foi observado nenhum fator relevante no período de coleta dos dados. O comportamento de ambas as curvas são semelhantes. O mesmo vale para os demais componentes, pois seus valores se encontram próximos.

NOTAS METODOLÓGICAS
O IGP-DI é um índice calculado pela Fundação Getúlio Vargas e é divulgado mensalmente.  O índice é composto por três outros índices: IPA, IPC e INCC.  O Índice de Preços no Atacado (IPA) e mede a variação dos preços varejistas. O IPA corresponde a 60% do IGP-DI. Também é formado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede a variação de preços entre as famílias. O IPC corresponde a 30% do IGP-DI. Por último, o Índice da Construção Civil (INCC) que mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando tanto materiais como mão de obra.
O IGP-M analisa os mesmos índices de preços consideradas no IGP-DI/FGV, ou seja, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que tem peso de 60% do índice, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% e o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), representando 10% do IGP-M.           
O que difere o IGP-M/FGV e o IGP-DI/FGV é que as variações de preços consideradas pelo IGP-M/FGV referem-se ao período do dia vinte e um do mês anterior ao dia vinte do mês de referência e o IGP-DI/FGV refere-se a período do dia um ao dia trinta do mês em referência.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Empregos e Salários - 1º trimestre 2014 

Autores: Daniel Pereira dos Anjos, Eliezer Cristino de Oliveira Junior e Tales Lins Costa
Orientador do Subgrupo: Prof. Maurício de Souza Sabadini

No primeiro trimestre de 2014 o IBGE somente havia divulgado os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A PNAD Contínua, de publicação trimestral e criada para substituir a PME, foi suspensa no início de abril devido a questionamentos sobre a nova metodologia. A PNAD Contínua abrange 20 regiões metropolitanas, enquanto a PME se restringe às regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre.
As mudanças da PNAD Contínua alterariam a distribuição de recursos aos estados brasileiros por meio do Fundo de Participação dos Estados, gerando descontentamentos diversos. As novas regras do Fundo modificaram um dos critérios de divisão, substituindo o indicador de PIB per capita por Renda Domiciliar per capita, o que na prática renderá uma parcela maior do Fundo para os estados mais populosos e que possuem mais famílias pobres.
De acordo com o IBGE, por meio da PME, a população economicamente ativa, formada pelos contingentes de ocupados e desocupados, foi estimada em 24,1 milhões de pessoas no mês de abril de 2014. Em relação ao mês anterior, a variação foi considerada estatisticamente insignificante pelo Instituto, mas é percebida uma leve e contínua queda do número absoluto da PEA desde outubro de 2013 que saiu de 24.549 para 24.114 pessoas.
A taxa de desemprego em abril, no conjunto das seis regiões pesquisadas, foi de 4,9%, um declínio de 0,1 ponto percentual em relação a março deste ano e de 0,9 ponto percentual em relação a abril de 2013. A taxa reflete a estimativa de 1,2 milhão de pessoas desempregadas. De acordo com a tabela abaixo é possível notar uma alteração no comportamento da taxa em relação ao ano anterior. No decorrer de 2013, a taxa de desemprego tendeu a aumentar. Um dos possíveis motivos deste aumento deve-se ao fim dos contratos de trabalho temporários de fim de ano. Mas, em 2014, a taxa passa a declinar gradualmente, mesmo que pouco, a partir de fevereiro.
  


De acordo com a análise do Coordenador de Trabalho e Emprego do Instituto, Cimar Azeredo Pereira, essa queda se dá, em parte, não pela geração significativa de mais postos de trabalho, mas pela diminuição do número de pessoas à procura de trabalho. Foi observado que cerca de um terço dessa população, também chamada de inativa, é formada por jovens. 
O rendimento real médio dos trabalhadores foi estimado em R$ 2.028,00 para o mês de abril nas regiões pesquisadas. Em relação a janeiro de 2014, a variação foi estatisticamente desprezível, mas o rendimento foi considerado 2,6% maior em relação a abril do ano passado.
Já a taxa, calculada pela PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em parceria com a Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados), nas Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo, é dividida em dois tipos: Desemprego Aberto e Oculto. Este último se divide em outros dois subgrupos, o desemprego oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo desalento.



Entre os meses de janeiro e março de 2014, a taxa total de desemprego subiu de 9,5%, em janeiro, para 11,0%, em março. O maior responsável pela elevação desses índices foi a taxa de desemprego aberto, que variou 1,3 p.p. nesse primeiro trimestre de 2014. Esse aumento deveu-se, principalmente, pela dispensa de trabalhadores temporários no comércio, que foram contratados para atender ao aumento de vendas no final de 2013. Já a taxa de desemprego oculto permaneceu contínua nos meses de janeiro a fevereiro, subindo 0,1 p.p. no mês de março. Quando comparamos março de 2013 a março de 2014, a taxa de desemprego oculto reduziu de 2,5% para 2,2%. A taxa de desemprego total de março de 2013 foi de 10,9%, 0,1 p.p. menor do que a taxa desse ano.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) é elaborado e divulgado pelo Ministério do Trabalho, onde é utilizado dados enviados pelas empresas que contratam empregados sob o regime da CLT, e a partir desses dados é possível realizar pesquisas e estudos sobre o mercado de trabalho, assim como subsidia o governo para tomada de decisões. Quem deve declarar? Todas as empresas que contratam empregados com carteira assinada, ou seja, aqueles que estão submetidos ao regime da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Qual o prazo? Até o sétimo dia do mês subsequente ao mês de referência. Empresas com 20 ou mais funcionários devem enviar o formulário CAGED através do certificado digital. Mais informações disponíveis em: portal.mte.gov.br/caged/
O CAGED trabalha com o saldo total de admitidos e desligados (aposentados, demitidos e falecidos), logo, a ideia que se tem aqui é de fluxo. Observa-se abaixo como foi a evolução do saldo no primeiro trimestre de 2014. Foram selecionados os setores que tiveram variações mais significativas. O saldo total no final da tabela refere-se não apenas à soma dos setores listados, e sim à soma de todos os setores que compõem o cadastro geral, incluindo os que foram excluídos desta análise.


No mês de janeiro, o setor do comércio apresentou o maior saldo negativo. Isso já era esperado devido ao fim dos postos temporários criados para suprir a demanda das compras de fim de ano. Já o desaquecimento do comércio no mês de março, que apresentou saldo negativo de 26.251, materializa a intenção do consumo das Famílias (ICF), que diminuiu em decorrência do aumento do endividamento, encarecimento do crédito pós-aumento da Selic, entre outros fatores, avalia a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fonte desta explicação. 
Em contrapartida, o setor de serviços apresentou os maiores saldos, contribuindo com 67,69% do saldo total do acumulado entre janeiro e março/2014. Destaque para o mês de fevereiro, quando a diferença entre admitidos e desligados registrou 143.345 empregados. As contratações no subsetor de ensino lideraram o ranking entre os subsetores, com saldo de 48.813. Em seguida o subsetor de serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção e redação com 36.377 postos de trabalho.
Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o setor comércio apresentou saldo negativo de 74.712 contratações, número maior que em 2014, apresentando variação de 13,82%. Em relação ao ano de 2013, o saldo total de empregos teve um crescimento de 14,62%.  A variação do setor de serviços foi algo em torno dos 30%. Com estes dados, percebe-se que no primeiro trimestre do ano, no Brasil, o número de admitidos está superando o número de desligados.
  

No Espírito Santo, assim como no Brasil, os saldos no comércio não foram muito animadores, mostrando um maior número de desligados do que admitidos nos meses de janeiro à março. O saldo total, envolvendo todos os setores ainda foi positivo, registrando 2.989 admitidos a mais que desligados. Os reflexos de políticas monetárias são sentidos em todo território nacional, logo, não foi diferente no nosso estado, e, havendo recuo do consumo das famílias, houve recuo nas contratações no comércio.
O setor de serviços caminhou seguindo tendência nacional, registrando maior saldo no mês de fevereiro, apresentando um valor absoluto de 2.699. O subsetor ensino contratou nesse mês 1.922 trabalhadores e foram desligados apenas 814. A construção civil mostrou-se em desaceleração na medida em que saltou de um saldo de 933 em janeiro para 92 em março. Não se podem afirmar ao certo os fatores responsáveis pela queda na construção civil, se é um efeito do crédito ou se é algo sazonal, sendo necessária uma investigação mais profunda.