terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Boletim N.º 51 - Novembro 2014- Apresentação



O Brasil foi marcado, nos dois primeiros trimestres de 2014, essencialmente pelas eleições e pela Copa do Mundo de Futebol. Mesmo com a finalização das obras como estádios, vias e meios de transporte e o esperado crescimento no ingresso de turistas, além do chamado ciclo eleitoral, que costuma estimular a economia, esses eventos não afetaram em nada a tendência do baixo desempenho da Economia Brasileira nos últimos anos. Assim, os dois primeiros trimestres apresentaram taxas negativas de crescimento do PIB, um estado de recessão técnica segundo o NBER. Após a conclusão do processo eleitoral e a divulgação de novos dados, não se pode ter expectativas otimistas sobre os resultados econômicos para este ano de 2014 e muitos apostam que para o próximo, também.
A ligeira aceleração da inflação medida pelo IPCA, de 6,3%, em 2013, para 6,5%, em 2014, acumulados em julho; a polpuda queda do superávit primário do governo central de R$ 38,4 bilhões para R$ 4,7 bilhões, acumulados até agosto nos dois últimos anos; e a pressão para desvalorização da taxa de câmbio, que era de R$ 2,20, em 30 de junho e chegou a R$ 2,49 às vésperas do primeiro turno das eleições, alimentou fartamente as críticas da oposição durante os debates eleitorais, ela pintou um cenário extremamente negativo e um possível caos econômico com a reeleição.
Após a conclusão do processo eleitoral, a pressão da burguesia nacional associada à burguesia internacional contra o governo, representada politicamente pela oposição, continuou em vários planos, essa pressão foi e continua sendo amplamente divulgada e apoiada pela grande imprensa. A pressão apareceu no mercado cambial, cuja taxa chegou a R$ 2,56, em 11 de novembro, na indicação de um representante do mercado financeiro para o Ministério da Fazenda e nos arranjos, articulações e alianças no Congresso Nacional, onde a oposição defendeu que tornaria o país pouco governável. Em resposta, os primeiros movimentos do governo foram a elevação da taxa básica de juros para 11,25% ao ano, a autorização para elevação do preço dos combustíveis e o anúncio de medidas de redução nas despesas, tais como o seguro-desemprego, o abono salarial e o auxílio-doença, além da redução nos subsídios concedidos através dos empréstimos do BNDES. 
Estranhamente, a imprensa não fez uma ampla divulgação de que esses possíveis cortes, no seguro-desemprego e no abono salarial, são pagos com recursos dos próprios trabalhadores, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, que também financia uma parte importante dos empréstimos efetuados pelo BNDES, para os investimentos dos capitalistas, com uma taxa de juros subsidiada de 5% ao ano. Ou seja, caso esses cortes sejam efetivamente realizados os trabalhadores serão duplamente penalizados, pela perda de benefícios e pela transferência da redução desses gastos para o superávit primário. Mas, isso não significa necessariamente o aumento de recursos livres para o pagamento dos juros da dívida interna. 
Nesse debate, entre governo e oposição, nenhum dos lados levantou e nem discutiu os custos da dívida interna em títulos. O Tesouro Nacional já tinha emitido, em julho de 2014, um total de R$ 3,05 trilhões em títulos da dívida pública e o Banco Central tinha colocado R$ 2,08 trilhões no mercado, o que representava 70,8% do PIB, estimado para julho de 2014. Essa dívida, que consumiu em juros R$ 148,2 bilhões ou 5,02% do PIB até julho de 2014, deve cobrar mais de R$ 255 bilhões de juros no ano de 2014. 
A dívida interna em títulos foi constituída e expandida pela política de taxas de juros elevadíssimas decorrente do plano Real e das negociações com o FMI em 1998 com o colapso do Plano Real. Ela não contribui em nada para o financiamento do setor público e nem para os investimentos produtivos de qualquer espécie, aliás, uma parte dela funciona como um parasita extraindo recursos da sociedade através do orçamento público e outra parte é usada para o BNDES efetuar empréstimos àquela taxa subsidiada.
O desempenho da economia brasileira no próximo ano vai depender de um conjunto de fatores relacionados à disputa de poder entre as forças que apoiam o governo e a oposição. Uma parte desse desempenho pode ser o resultado das medidas de política macroeconômica, outra parte, do que as classes dominantes nacionais e estrangeiras considerarem que até que ponto essas medidas são adequadas ou não aos seus interesses e, enfim, dos limites e restrições externos. De qualquer modo, para que o governo possa efetivamente alavancar seus investimentos, numa política voltada ao crescimento, ele precisa reduzir os subsídios ao capital e à remuneração da dívida pública em títulos. Esse embate ainda não está definido para o próximo governo.

Esta edição do boletim traz a análise da economia brasileira no período pré-eleitoral e conta novamente com a participação do Prof. Fabrício Augusto de Oliveira sobre as perspectivas da economia para 2015. 

Boa leitura!


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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Setor Externo - Janeiro a Maio 2014

Autores: Anelyse David, Matheus Jesus e Rayssa Bolleli
Orientador. Prof. Enrique Casais

Setor Externo

Os cinco primeiros meses do ano de 2014 encerraram-se com um resultado positivo de US$ 8,3 bilhões de dólares no balanço de pagamentos. Em relação ao ano anterior, cujo superávit no mesmo período foi de US$7,6 bilhões, houve um aumento de apenas 8,9%. Esse fato apenas manteve a tendência do resultado positivo do balanço de pagamentos brasileiro nos primeiros meses do ano. 
Neste mesmo período, as transações correntes apresentaram um déficit de US$40,1 bilhões, o que significou um pequeno aumento de 1,98% em relação a 2013. A conta capital financeira, por sua vez, registrou uma leve queda de 3,5%, com um superávit de US$45,8 bilhões.

Transações correntes

Em relação às transações correntes, percebe-se resultados mais estáveis, bem semelhantes aos auferidos no ano de 2013. Uma pequena ressalva se faz aos resultados apresentados pela balança comercial, o que dá um pequeno indicativo de alteração da composição do déficit. Este ponto será retomado mais a frente.

A abertura da conta de transações correntes revela que tanto as rubricas de Viagens Internacionais quanto lucros e dividendos permanecem praticamente constantes, havendo mudança unicamente na subconta de pagamento de juros, onde se verifica um leve aumento. Em linhas gerais, isso pode ser reflexo da  recuperação da economia internacional, o que tem pressionado desde o final do ano passado, uma tendência a  elevação das taxas de juros em diversos países.

A balança comercial, outra componente das transações correntes, nos cinco primeiros meses do ano, apresentou um resultado deficitário de US$4,8 bilhões de dólares. No comparativo de janeiro-maio de 2014 com o mesmo período de 2013, percebe-se que houve uma queda de 3,5% no tamanho do déficit apresentado. A explicação para isto é que, em relação a quantidade e preços das exportações e importações, houve uma queda em relação ao mesmo período do ano passado.
Já com base na pauta de exportação brasileira, os resultados apresentados apenas fortaleceram a tese de que a economia do nosso país tem regredido do ponto de vista da sua especialização na cadeia produtiva. No período, houve uma queda na participação dos produtos industrializados em 8,5%, enquanto os produtos básicos com baixo valor agregado apresentaram um crescimento de 2,9%. Ao comparar o mesmo período de 2013 com o deste ano, os produtos que mais apresentaram queda no valor das exportações foram respectivamente: milho em grãos (-54,29%), automóveis de passageiros (-30%), e açúcar refinado (-39,38). Entretanto, tais produtos têm um peso de apenas 6% em nossa pauta exportadora. Os produtos com maior peso, soja e minérios de ferro, que juntos representam cerca de 24% de nossas exportações, variaram respectivamente 21% e -5,23% no valor exportado em relação ao mesmo período do ano passado. A explicação para o bom resultado da soja, foi que o preço desta commodity no mercado internacional estava muito favorável, o que alavancou as exportações principalmente para a China, que corresponde a aproximadamente 63% da demanda por este grão. Já a conta petróleo, que compreende a diferença entre o que a importação e exportação de petróleo e seus derivados, ainda continua sendo a principal responsável pelo déficit de nossa Balança Comercial,no período analisado, embora o montante do déficit foi menor.

De modo complementar, percebe-se que apenas duas regiões brasileiras apresentaram aumento em suas exportações: região Centro-Oeste, 2,1% e Norte, 4,7%. Isto fortalece hipóteses recentes acerca da perda de capacidade de regiões, Sul e Sudeste, que tradicionalmente ditaram a dinâmica econômica interna através  da interiorização do crescimento econômico do País.

Houve uma queda na demanda por produtos brasileiros na maioria dos blocos e países, exceto a União Europeia e Europa Oriental. Quanto à demanda da China, maior compradora individual dos produtos brasileiros, verificou-se uma queda de 10% das exportações brasileira para este país, que é um resultado expressivo. Isto é reflexo da diminuição do crescimento chinês, tendência que fora indicada no boletim anterior. Mas o que sem dúvida apresentou forte impacto nas exportações brasileiras, foi a queda de exportação para Argentina e para o Chile. As exportações para  Argentina, possivelmente em virtude do contexto de crise fiscal e instabilidade cambial, apresentaram uma queda de 29,8%. Em suma, o fator que chama atenção na composição de nossos principais parceiros econômicos é a forte queda das exportações para os países latino-americanos.

Conta Capital e Financeira

Como já indicado nos boletins passados, a Conta Capital e Financeira, principalmente a partir da abertura econômica realizada nos anos 1990, tem sustentado os déficits em Transações Correntes do nosso Balanço de Pagamentos, garantindo assim, os superávits obtidos nas contas externas. No começo de 2014, o resultado não poderia ser diferente. Os US$ 45 bilhões que entraram por essa conta, garantiram o superávit do Balanço de Pagamentos.

Nestes cinco primeiros meses de 2014, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi responsáveis por 55% do total de divisas que entraram no país através da Conta Capital e Financeira. Isto confirma o peso que este fluxo de capitais tem para a estabilidade do setor externo.

Entretanto é importante destacar que o capital ingressante na forma de Investimento Estrangeiro Direto (IED), apesar de ser o principal responsável pelo superávit da Conta Capital e Financeira, contribui, em conjunto com os Investimentos Estrangeiros em Carteira (IEC), para o déficit das Transações Correntes, pois acarreta em alto déficit na conta de rendas e serviços, decorrente das remessas de juros, lucros e dividendos.

Desta maneira, conclui-se que muito pouco foi alterado nestes cinco primeiros meses de 2014 em relação ao mesmo período do ano passado, o que pode ser um indício de que o momento de inflexão nas contas externas apresentado no boletim de conjuntura de 2013 tende a se manter esse ano, o que poderá apenas ser confirmado no fechamento do balanço de pagamentos do final do ano.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O Grupo de Conjuntura retoma suas atividades neste semestre 2014/2 no dia 29/08 e convida os alunos do Curso de Ciências Econômicas para participar dos seus subgrupos de estudos. 


PARTICIPE!
Sexta-feira, 29/08, às 11hs, Sala 402.

As reuniões são abertas a todos os interessados.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Política Monetária - 1º quadrimestre 2014

Autores: Rafael Pereira dos Santos, Ricardo Silva Pereira, Suiani Febroni Meira
Orientador. Prof. Luiz Jorge V. P. Mendonça

Política Monetária

O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão colegiado do Banco Central do Brasil (BACEN) tem como objetivo implementar a política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu eventual viés, e analisar o Relatório de Inflação. A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para taxa Selic (taxa média de financiamentos, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. 

As decisões do Copom têm como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional. A meta atual é de 4,5% (centro da meta) e pode variar em 2 pontos percentuais para mais (limite superior) ou para menos (limite inferior), e tem como base o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dessa forma, o Copom promoveu, ao longo de 2013 e também no primeiro semestre de 2014, altas consecutivas na meta da Taxa Selic com o objetivo de controlar o processo inflacionário no país.  De acordo com o Gráfico 1, o patamar da Selic no primeiro semestre de 2014 está mais alto quando comparado ao primeiro semestre de 2013. Na 183ª reunião (maio 2014), o Copom manteve a Taxa Selic em 11% a.a sem viés diante da “avaliação de evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”.
A taxa média de juros das operações de crédito do sistema financeiro, consideradas as operações com recursos livres e direcionados, atingiu 21,4% a.a. em maio, avançando 0,3 p.p. no mês e 3,3 p.p. em doze meses. Nos empréstimos a pessoas físicas, a taxa média de juros subiu 0,2 p.p. no mês e 3,9 p.p. em doze meses, ao registrar 27,9% a.a. Nos empréstimos às empresas, a taxa média alcançou 16,3% a.a., após elevações de 0,3 p.p. no mês e de 2,8 p.p. em doze meses. Algumas formas de financiamento  com recursos livres para pessoas físicas são: cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos, cartão de crédito. E para pessoas jurídicas: desconto de duplicatas, capital de giro, conta garantida, adiantamento de contrato de cambio (ACC). As formas de financiamento tanto para pessoas físicas como jurídicas com recursos direcionados incluem: crédito rural, Banco Nacional Desenvolvimento Econômica e Social (BNDES), financiamento imobiliário e outros. De acordo com o Gráfico 2 abaixo, observa-se um acompanhamento das taxas medias de juros com a taxa Selic, embora sempre com elevado spread em relação à mesma.

Crédito

Segundo os dados divulgados pelo Banco Central, as operações de crédito do sistema financeiro fecharam o mês de abril com saldo de R$ 2,78 bilhões, alta de 2,2% desde o início de 2014. Já os créditos destinados a pessoa física e jurídica, a alta foi de 2,3% e 2%, respectivamente, mesmo diante das elevações da taxa Selic. Comparando com o final do 2º semestre de 2013 a alta é de 2,2%. 

Já a taxa de inadimplência, praticamente manteve-se estável, com 1,9%, para as empresas, e 4,4% para as famílias, se comparada ao 2º semestre de 2013. As concessões de crédito obtiveram uma elevação de 5,6% entre janeiro e abril, fechando o mês com saldo de R$ 308,4 bilhões, cerca de 9,9% de aumento para as pessoas jurídicas. O mesmo não pôde ser observado para o crédito a pessoas físicas, que registrou retração das concessões em 1,64%. O próprio endividamento das famílias, além do aumento dos juros vem dificultando o acesso ao crédito por parte destas. A taxa de juros elevou-se de 26,8% para 27,7%, de janeiro a abril, para as pessoas físicas, enquanto para as jurídicas foi de 15,9% para 16%, no mesmo período.  

A relação do crédito com o PIB manteve-se constante com 29,9% destinados para as pessoas jurídicas e de 26,1% para as pessoas físicas, totalizando no mês de abril 55,9% do PIB. Este percentual é igual ao registrado no mês de janeiro de 2014. Em relação ao final do 2º semestre de 2013, representa uma baixa de 0,2 p.p.. 

O estoque de recursos livres para as empresas, aqueles concedidos pelos bancos privados e que contém uma taxa de juros mais elevada, reduziu de 15,3% para 15,1% de janeiro a abril, assim como aos destinados para as famílias, de 15,4% para 15,1%. Os recursos direcionados, concedidos pelo governo e que possuem uma taxa de juros menor, praticamente mantiveram-se constantes para as empresas, de 14,6% em janeiro para 14,7% em abril de 2014. No que diz respeito aos concedidos às famílias, a concessão de créditos direcionados também não foi muito diferente elevando-se de 10,6% para 10,9%.          

O financiamento para investimento com recursos do BNDES recuou 4,81% desde janeiro de 2014, de R$ 106,7 bi para R$ 101,8 bi em abril. Seguindo o mesmo sentindo, o financiamento agroindustrial apresentou recuo de 0,2%, passando de R$ 86 bilhões para R$ 85,8 bilhões.

O crédito para a União elevou-se em comparação ao último semestre de 2013, cerca de 9%, totalizando R$ 77,49 bilhões, assim como para Estados e Municípios, em que esse aumento foi de 8,8%, registrando em abril R$ 89,52 bilhões. No total, o volume de crédito destinado ao setor público foi de R$ 516,86 bilhões. Já no setor privado, destaca-se o crédito imobiliário, com elevação de 6,3% e totalizando R$ 429,35 bilhões, e o rural, com alta de 4,58%  e saldo de R$ 231,47 bilhões. O setor de crédito para a indústria fechou o mês com crescimento de 1,3%, com saldo de R$ 516,86 bilhões, o comércio teve uma ligeira alta de 0,7% com saldo de R$ 236,79 bilhões em abril, se comparado a janeiro deste ano. 

Mesmo diante das constantes elevações da taxa de juros SELIC, o que tende a um aumento geral dos juros e consequente dificuldade de acesso ao crédito, o crédito destinado para as famílias, empresas e os governos mostra expansão, apesar das previsões de restrição à tomada de crédito por parte dos agentes econômicos neste cenário.

Agregados monetários

A base monetária, que é a soma do papel-moeda emitido mais reservas bancárias, apresentou um saldo de R$ 222,4 bilhões em abril, com uma pequena contração de 0,2% no período de janeiro a abril de 2014. Esta contração foi puxada pela queda do papel-moeda emitido, que apresentou uma variação negativa de 1,1%, enquanto as reservas bancárias apresentaram expansão de 3,9%.

Quando analisado os fatores condicionantes da base monetária para o período de janeiro a abril de 2014, nota-se que o principal responsável pela criação de moeda foram as operações com o setor externo, com um saldo de fluxo no período de R$ 13,9 bilhões. Este valor está associado a compra de Dólar que o Banco Central vem realizando. Esta medida pode estar relacionada com a necessidade de manter reservas cambiais, a fim de conter a possível desvalorização do Real.

Ainda neste sentindo, o Banco Central vem realizando o programa de leilões de swap desde agosto de 2013 que, segundo informações do próprio BCB, deve vigorar até 30 de junho de 2014. Os leilões de swap ocorrem de segunda a sexta-feira com oferta de US$ 200 milhões por dia.

A principal justificativa do Banco Central para manutenção deste instrumento é atender a demanda de hedge cambial e liquidez no mercado de câmbio. Percebe-se que esta é uma maneira do Banco Central atuar sobre o câmbio para conter a desvalorização do Real, diante de uma pressão por demanda de dólares, já que as reservas internacionais não estão sendo garantidas pela balança comercial que apresentou um déficit de R$ 5,5 bilhões, segundo dados do Banco Central, isto no primeiro quadrimestre de 2014. 

Além disso, uma desvalorização do Real poderia levar a intensificação do processo inflacionário, pois a inflação brasileira pode estar apresentando o perfil de uma inflação de custo, uma vez que o IPCA tem acompanhado a variação cambial. Deste modo, o remédio de aumentar a taxa de juros para conter uma inflação que supostamente seria demanda, não se justificaria diante da atual conjuntura.

O impacto contracionista da base monetária no primeiro quadrimestre de 2014 foi determinado pelos seguintes fatores, em ordem de importância: operações com derivativos, depósitos em instituições financeiras, outras contas, operações com títulos públicos e conta do Tesouro Nacional, conforme Tabela 1.


O saldo negativo de R$ 14,6 bilhões das operações com derivativos mostra que o Banco Central vem recebendo mais pela variação do câmbio, do que paga pela variação dos juros na venda de swap cambial. Possivelmente, este “ganho” que o Banco Central tem obtido pode evidenciar que existe pressão para alta da taxa de câmbio.

As operações com títulos públicos apresentaram impacto contracionista, com o Banco Central vendendo títulos no mercado secundário. O objetivo principal das operações com títulos públicos não é atuar sobre a liquidez, mas sim garantir a Selic dentro da meta, isto é, a administração das taxas de juros no curto prazo e a rolagem da dívida pública federal.

O meio de pagamento restrito (M1) apresentou variação nominal negativa de R$ 4,6 bilhões para o quadrimestre. Uma contração de 1,5% na média dos saldos diários. O depósito à vista correspondeu a cerca de 51% do M1 durante o período.

O M2, que corresponde ao M1 mais emissões de alta liquidez realizadas primariamente no mercado interno por instituições depositárias, apresentou variação positiva de 1,8% no primeiro quadrimestre, variando em 14,3% em relação ao mesmo período de 2013. A participação dos títulos privados, que corresponde a aquisição de CDBs e debêntures, ganha destaque nesta elevação.

O M3, que corresponde ao M2 mais captações internas por intermédio dos fundos de renda fixa e das carteiras de títulos registradas no Selic, apresentou variação positiva de 3% no período de janeiro a abril de 2014, porém menor que a variação do mesmo período do ano passado. Contribuiu para esta queda as operações compromissadas com títulos públicos federais que apresentaram variação nominal negativa de R$ 5,3 bilhões. O M4 apresentou uma variação positiva de 1%, no valor de R$ 86,2 bilhões, com maior participação dos títulos públicos federais que a observada no mesmo período de 2013.

Analisando os dados dos meios de pagamento de janeiro de 2011 a janeiro de 2014, observa-se que o M4 apresentou tendência de alta, variando em 48%, passando de R$ 3 trilhões para R$ 4,4 trilhões. Esta tendência de alta é puxada principalmente pelos componentes do M4 e M3, ativos menos líquidos mas com maiores rendimentos. Existe a hipótese de que a manutenção de alta destes ativos é necessária para que o governo mantenha uma política econômica favorável, garantindo a rolagem da dívida e atração de capitais externos, dado o peso da entrada destes capitais que têm segurado o superávit do balanço de pagamento.


segunda-feira, 23 de junho de 2014


Nível de Atividade - 1º trimestre 2014

Autores: Cláudia Emília Bianchin, Elionai Rodrigues e Thais Mozer
Orientador do Subgrupo: Prof. Adriano Lopes Almeida Teixeira

Análise do PIB

No último resultado do PIB, divulgado no dia 30 de maio, o IBGE fez uma revisão das séries trimestrais de 2013. A alteração ocorreu na nova série de índices de produção industrial que foi elaborada baseada na pesquisa Industrial de Produção Física (PIM-PF) reformulada. Essa mudança metodológica passou a incluir novos produtos, recalculou os pesos dos setores dentro da produção total e aumentou o número de empresas que fornecem informações. Com isso, o PIB a preço de mercado de 2013 que apresentava uma variação positiva de 2,3% passou a ser 2,5%. As maiores alterações nos resultados são notadas no setor da indústria que teve um aumento (de 1,3% para 1,7%) sob a ótica da produção. Já sob a ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo apresentou queda, passando de 6,3% para 5,2%. Outros resultados alterados estão resumidos na Tabela 1.1.

Em relação aos dados divulgados pelo IBGE para o primeiro trimestre de 2014, o PIB manteve-se praticamente estagnado, com uma variação de apenas 0,2% em comparação com quarto trimestre de 2013. Em valores correntes, esse resultado foi de R$ 1.204,1 bilhões. Já em comparação com o primeiro trimestre do ano anterior, houve um aumento de 1,9%. Tal resultado indica que a economia brasileira está em desaceleração, a qual foi iniciada no terceiro trimestre de 2013. Os resultados do PIB acumulado (com ajuste sazonal) encontram-se resumidos no Gráfico 1.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou que muitos foram os fatores negativos que prejudicaram o desempenho do PIB, dentre eles: a seca, recuperação lenta da economia internacional, baixo crescimento da Europa, volatilidade cambial e aumento da inflação. 

Sob a ótica da produção, o setor de destaque foi a Agropecuária que obteve um aumento de 3,6% em comparação com o trimestre anterior (em valor corrente R$ 61,7 bilhões). Segundo o IBGE, a explicação desse desempenho está relacionada com alguns produtos que possuem safra significativamente relevante e pela produtividade durante o período, como a soja, arroz, algodão e fumo. Esse resultado surpreendeu, já que se esperava um crescimento menor devido às secas que aconteceram nessa mesma época. Nota-se que esse resultado acabou sendo contraditório com a explicação dada pelo Ministro da Fazenda, mostrando que parte do argumento dele não procede.
A indústria apresentou uma queda de 0,8% em relação ao quarto trimestre de 2013. Em valor corrente, o resultado foi de R$ 241 bilhões. O subsetor de construção civil teve uma retração de 2,3%, e o destaque foi eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, com um aumento de 1,4%. Esse último subsetor teve seu crescimento influenciado pelo calor forte que ocorreu durante o período, o que forçou a população a consumir mais energia. A indústria foi o setor que travou o crescimento do PIB no primeiro semestre de 2014.
O setor de Serviços teve uma variação positiva de 0,4% em comparação com o trimestre anterior. Vale destacar que o subsetor de comércio teve uma queda de 0,1%, se mantendo praticamente estável em relação ao período anterior. 
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias sofreu uma queda de 0,1% se comparado com o quarto trimestre de 2013. Em valor corrente o resultado foi de R$ 788,6 bilhões. Esse consumo tem um impacto grande sobre o PIB, já que representa cerca de 65% desse índice. Tal resultado não é de se surpreender, já que o Brasil passa por um cenário macroeconômico de inflação alta (reduz o poder de compra da população). Em relação ao mesmo trimestre de 2013, houve um aumento de 2,2%, que é explicado, de acordo com o IBGE, pelo fato de que os salários obtiveram um aumento real de 4,0% no primeiro trimestre de 2014.  
A formação bruta de capital fixo teve uma variação negativa de 2,1%, correspondendo a R$ 213,1 bilhões. Em comparação com o mesmo trimestre de 2013, a variação negativa foi de 2,10.
Já o consumo do governo teve uma variação positiva de 0,7% (R$ 242,7 bilhões em valores correntes). Em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, ocorreu um aumento de 3,4%.


Um dado a se destacar é taxa de investimento que ficou em 17,7% do PIB, abaixo do observado no mesmo período de 2013 (18,2%). Somado a isso, a taxa de poupança, que é um bom parâmetro para medir a capacidade de investir, ficou em 12,7% ante aos 13,7% do mesmo período do ano anterior. Esses resultados são bastante preocupantes, e põem a dúvida se o Brasil terá condições de crescer com uma taxa de investimento baixo.  
Com um cenário de política monetária contracionista, demanda externa menor e incertezas políticas gerada pelas eleições, não se pode esperar que de fato ocorra um crescimento significativo nos próximos trimestres de 2014. Não é a toa que a ONU reduziu a expectativa do PIB de 2014 para 1,7%, sendo que antes a expectativa era 3,0%. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também reduziu suas projeções de 2,2% para 1,8%, que é igual a do FMI. Já o Banco Central espera um crescimento mais otimista de 2,0% e o governo espera 2,3%. 

Indústria Nacional

Com a nova metodologia implementada pelo IBGE, em maio de 2014, registrou-se um aumento na produção industrial do ano de 2013, passando de um crescimento de 1,2% para 1,7%. 
Referente ao índice acumulado do período de janeiro a março de 2014, em comparação com igual período do ano anterior, a indústria nacional teve uma variação positiva de 0,4%.


Os setores que influenciaram negativamente no desempenho da indústria nacional no primeiro trimestre foram produtos de metal (-7,7%), produtos têxteis (-5,3%), máquinas, impressão e reprodução de gravações (-4,8%), aparelhos e materiais elétricos (-4,6%), couros e calçados (-3,6%), fumo (-3,5%), móveis (-3,7%) e outros produtos químicos (-1,2%). Outro setor apontado como responsável ao desempenho pífio da indústria é o automobilístico (-6,3%), podendo ser observado pela diminuição das vendas e o consequente aumento dos estoques. Esse resultado pode ser explicado, em parte, pelas medidas de restrição de crédito para o financiamento de carros devido à alta inadimplência registrada no ano anterior, contribuindo assim para a diminuição da produção.
Além disso, o setor de construção civil tem registrado poucos investimentos, representando uma diminuição nas obras de infraestrutura e na produção de bens de capitais e, também, contribuindo para a redução nos postos de emprego desse segmento. 
Por outro lado, os bens de consumo duráveis apresentaram resultados positivos (3,4%), dinamizados pela maior fabricação de eletrodomésticos da linha marrom, que pode ser explicado, em parte, devido a maior demanda de aparelhos de televisão com o advento da Copa do Mundo. Já o crescimento do setor de bens de consumo não-duráveis (2,8%) deveu-se notadamente pelo aumento na produção de medicamentos e gasolina automotiva.


Indústria Capixaba

O IBGE anunciou que a partir do mês de maio de 2014 foi implementada uma reformulação da série de índices mensais da produção industrial, elaborados com base na Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF). Essa nova metodologia é mais abrangente, passando de uma amostra de 830 produtos e 3.700 unidades locais para 944 produtos e 7.800 unidades locais. Dentre os objetivos previstos da nova metodologia estão compreendidos a elaboração de uma nova estrutura dos índices com bases em estatísticas industriais mais recentes, a fim de adequar-se à Classificação Nacional de Atividades Econômicas 2.0 e atualizar a amostra de atividades, produtos e informantes.
No índice acumulado do primeiro trimestre deste ano, frente a igual período do ano anterior, a produção da indústria capixaba teve um recuo de 4,0%. O principal setor que contribuiu para essa queda na produção foi o setor de metalurgia (-21,2%), seguida pelas indústrias de produtos alimentícios (-9,5%) e extrativas (-2,3%). O único setor que apresentou um resultado positivo foi o de minerais não-metálicos (12,3%), visto que a atividade de celulose, papel e produtos de papel apresentou uma produção constante (0,0%).


Comércio Nacional

Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio/IBGE, o volume de vendas do comércio varejista nacional após dois meses consecutivos de crescimento, apresentou, no mês de março, um decréscimo no ritmo de vendas de 1,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Essa queda pode estar relacionada com a redução dos dias úteis, tendo em vista que o carnaval esse ano foi em março e possivelmente ao aumento da inflação em alguns setores. A atividade Hipermercados, Supermercados, Alimentos, Bebidas e Fumo teve grande peso para essa variação negativa, que pode ter sido influenciada pelo aumento da inflação de alimentos. Em março, segundo IPCA, o grupo alimentação e bebida apresentou aumento de 1,92%.


No acumulado do ano, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 4,5%, enquanto a receita nominal cresceu 10,3%. A atividade Móveis e eletrodomésticos continua apresentando resultados positivos, apesar de uma significativa queda da atividade em relação a março/fevereiro, devido provavelmente à alta de preços no setor. Porém, o crescimento na atividade foi muito influenciado pelas compras antecipadas de televisores para a Copa do Mundo e subsídios do governo federal com o Programa Minha Casa Melhor   para compra desses produtos.
O comércio varejista ampliado, representado pelo comércio varejista mais os itens Veículos e motos, partes e peças e Material de construção apresentou no acumulado do ano crescimento de 2,1% no volume de vendas e crescimento de 7,2% na receita nominal. A atividade Veículos e motos, partes e peças apresentou um decréscimo de 3,8% no volume de vendas e uma queda na receita nominal de 1,2%, resultado muito influenciado pelas taxas negativas apresentadas no mês de março, onde a atividade teve o seu pior desempenho dos últimos 6 anos, registrado em 2008, período de crise mundial. Portanto, esse resultado pode ser atribuído ao aumento das alíquotas dos Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), ou seja, sua recomposição e uma maior restrição do crédito.
Por outro lado, a atividade Material de Construção no acumulado do ano apresentou crescimento tanto no volume de vendas quanto na receita nominal. A atividade desde o ano passado vem apresentando resultados positivos devido à continuidade das políticas governamentais para esse setor, como o aumento do limite do FGTS para financiamentos imobiliários, redução do IPI para alguns produtos.
Contudo, os resultados analisados na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostram que o crescimento no primeiro trimestre de 2014 não representa motivo para comemoração. O nível de atividade tíbio no comércio é um indicativo das condições e perspectivas pouco favoráveis para este setor, pois o alto custo de crédito faz com que o consumo perca a força influenciando diretamente algumas atividades que dependem do crédito. De acordo com os dados do Banco Central, em 12 meses encerrados em Março, o saldo de crédito com recursos livres cresceu 6,5%, porém em igual período do ano anterior o crescimento foi de 12%. Outro fator é a inflação que, em alguns setores de grande peso na taxa do varejo, também influencia para que a atividade não tenha um desempenho considerável.

Comércio Capixaba

 No acumulado do ano o comércio varejista do Espirito Santo apresentou crescimento de 1,1% no volume de vendas e de 6,6% na receita nominal. Porém, no comércio varejista ampliado os resultados foram todos negativos, com queda de 7,9% no volume de vendas e 3,6% na receita nominal. Dos estados brasileiros apenas quatro apresentaram variações positivas no comércio varejista ampliado, o que mostra que essa queda é uma tendência nacional. 
A atividade Hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo apresentou pior desempenho, enquanto a atividade Móveis e eletrodomésticos apresentou crescimento de 16%, indicando que o comércio capixaba vem seguindo a mesma tendência do comércio nacional em relação a atividades.
O mês de Março/2014 não apresentou resultados favoráveis para o Comércio Capixaba em relação ao volume de vendas que teve queda no comércio varejista de 4,3% e 13,1% no comércio varejista ampliado. Já a receita nominal do comércio varejista teve um crescimento de 1%.


Inflação - 1º quadrimestre 2014 

Autores: Hugo Rezende Tavares e Nathália Costa Azevedo
Orientador do Subgrupo: Profa. Renata Couto Moreira


Pelo terceiro mês consecutivo no ano de 2014, o IPCA apresentou trajetória crescente de forma acumulada em 12 meses (6,28%), apesar da sua breve redução registrada no mês de abril, quando foi observado um aumento de 0,67%, ante o dado obtido para o mês de março de 2014 de 0,92%. Os valores obtidos para os meses de fevereiro, março e abril já se mostram maiores que os dados obtidos para os mesmos períodos do ano passado (sendo estes respectivamente 0,60%, 0,47%, 0,55%) aumentando assim, preocupações quanto a capacidade do governo em manter a inflação abaixo do teto da meta para o ano de 2014. O índice acumulado no ano apresenta um valor de 2,86% frente a 2,50% observado no mesmo período do ano de 2013.

Entre os principais determinantes para o aumento da inflação neste ano de 2014, principalmente no mês de março, onde se observa uma disparada da alta do índice, destacam-se os grupos de alimentação e bebidas (que apresentou aumento de 1,92%) e transporte (cuja alta foi de 1,38%). No mês de abril, percebe-se uma desaceleração no índice destes dois grupos, sendo que o grupo de alimentação e bebidas apresenta aumento de 1,19% e transporte, de 0,32%.
Em relação às políticas econômicas do Brasil, notam-se claras tentativas do governo de conter o processo inflacionário. A inflação é um fator que vem sendo utilizado, de forma superestimada, para constantemente criticar o atual governo. Medidas de curto prazo vêm se destacando como ferramentas para frear as taxas de inflação. Já no início de 2013 o governo apresentou uma inversão da sua política monetária voltando a aumentar a taxa de juros. Desde em então, o aumento da taxa SELIC (hoje retornando aos dois dígitos de 11%) vem sendo usado como tentativa de conter o processo inflacionário que, no ano de 2013, já causava preocupações.
Apesar das declarações do governo de utilizar a taxa SELIC com o intuito de manipular a inflação, o governo tem tido sérias dificuldades em fazê-lo e não tem obtido o êxito esperado. Frente às dificuldades de conter a inflação, outra medida que vem sendo utilizada fortemente pelo governo neste quesito tem sido estratégias de políticas econômicas via taxa de câmbio. A utilização dos swaps cambiais tem sido fundamental em controlar a tendências de alta da taxa de câmbio. Desta forma, incentiva as importações e torna o nível de preços no Brasil refém dos níveis de preços internacionais.
Verificada esta alternativa, nota-se que o governo vem optando por realizar políticas de curto prazo para conter a inflação. Em conjunto, estes dois fatores expostos, permitem ver uma série de complicações para a economia brasileira, como o sufocamento da indústria nacional. Percebe-se o trade-off que o governo tem se mostrado disposto a fazer, abrindo mão de possíveis desenvolvimentos de longo prazo para apresentar benefícios de curto prazo.
Deve-se ter em mente que o ano de 2014 é um ano eleitoral. Isto sugere que medidas anti-inflacionárias serão implantadas constantemente no Brasil, visto que este tem sido propagado como o ponto fraco do governo Dilma. Medidas comprometendo a política fiscal, por exemplo, no caso de impostos indiretos, mais especificamente impostos sobre bebidas alcoólicas estão sendo adiados para evitar o repasse deste para os consumidores, “contendo” então o processo inflacionário. Esta questão é interessante pois o quesito de alimentação e bebidas têm contribuído com maior peso para o aumento de preços no Brasil.
Outro ponto bastante importante a ser considerado também, é que os grandes eventos a serem realizados, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, podem vir a contribuir fortemente para o aumento dos índices gerais de preço no mesmo ano. Portanto, as estratégias do governo estão se mostrando cada vez mais claras e convergindo para este ponto. Embora sem muito sucesso, uma das principais metas do governo Dilma para 2014, ainda é manter a taxa de inflação abaixo do teto da meta inflacionária. 
O INPC, indicador analisa o processo inflacionário, considerando famílias com rende entre 1 até 5 salários mínimos (diferentemente do IPCA que abrange famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos) apresenta dados com trajetória bastante parecida com os do IPCA. Mantendo-se relativamente estabilizado em janeiro e fevereiro (respectivamente 0,63% e 0,64%), a alta no mês de março parece ter afetado os mais diversos indicadores de inflação, elevando este índice para 0,82% e desacelerando de forma tímida no mês de abril para 0,78%.  Embora o acumulado em 12 meses do INPC se apresente menor que o IPCA (5,81% ante 6,28%), o índice acumulado no ano do INPC se mostra maior que o observado pelo IPCA. Ou seja, pode-se deduzir disto que as famílias de menores rendas estão sofrendo um impacto relativamente maior com a alta dos preços.
O IGP-DI dos quatro primeiro meses do ano está na casa de 3,1%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,76%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-DI, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,27%, acima do índice em 2013 que foi 2,58%.
2. IPA acumulado em 3,3%, novamente, acima de 2013 que foi de -0,18%.
3. INCC acumulado em 2,37%, contrapondo-se com o 2,49% do mesmo período do ano passado.
Fica claro que houve aumentos em dois dos três componentes do IGP-DI, sendo que a maior alta é diferença é do IPA e, como a ponderação dele é de 60%, acaba puxando o IGP-DI para cima.


Em relação a cada componente individualmente, o IPA foi o que teve a alta mais substancial, mostrando que há pressão sobre os preços dos custos de produção e, comparando com o IPC, vê-se que a pressão inflacionária localiza-se mais pelo lado da oferta do que da demanda. 
Observaram-se efeitos da taxa de câmbio sobre o IPA. Houve uma trajetória ascendente durante janeiro e fevereiro, culminando em R$ 2,4283. Durante fevereiro o real valorizou um pouco, mas nunca deixando a casa de R$ 2,30. Em março e abril, o real continuou numa trajetória de valorização. E esse vai-vem da taxa de câmbio coincide muito bem com a trajetória do IPA, mostrando que esse é um fator que esta dificultando o setor produtivo, fazendo a indústria perder a competitividade.
Há ainda outros fatores a serem considerados quando se trata do resultado do IPA, como o Decreto nº 8.166 de 23/12/2013 que reajusta o salário mínimo à partir do dia 1º de Janeiro de 2014 para R$724,00; isso causa um grande impacto na folha de pagamento das empresas.
O INCC foi o único que teve uma tímida redução, mostrando que os incentivos feitos pelas políticas fiscais ao setor de construção civil, numa tentativa de aquecê-lo, estão surtindo efeitos nos preços.

O IGP-M dos quatro primeiro meses do ano está em 3,31%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,99%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-M, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,21%, contra 2,60% de 2013.
2. IPA acumulado em 3,30%, bem acima do 0,21% no ano passado.
3. INCC acumulado em 2,37%, menor que os 2,53% em 2013.
Analogamente ao IGP-DI, tem-se como destaque o IPA, que apresenta a mesma ponderação do IGP-DI.


Pode-se atribuir às mesmas causas do aumento do IPA-M as causas descritas no IPA-DI, pois à principio, não foi observado nenhum fator relevante no período de coleta dos dados. O comportamento de ambas as curvas são semelhantes. O mesmo vale para os demais componentes, pois seus valores se encontram próximos.

NOTAS METODOLÓGICAS
O IGP-DI é um índice calculado pela Fundação Getúlio Vargas e é divulgado mensalmente.  O índice é composto por três outros índices: IPA, IPC e INCC.  O Índice de Preços no Atacado (IPA) e mede a variação dos preços varejistas. O IPA corresponde a 60% do IGP-DI. Também é formado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede a variação de preços entre as famílias. O IPC corresponde a 30% do IGP-DI. Por último, o Índice da Construção Civil (INCC) que mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando tanto materiais como mão de obra.
O IGP-M analisa os mesmos índices de preços consideradas no IGP-DI/FGV, ou seja, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que tem peso de 60% do índice, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% e o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), representando 10% do IGP-M.           
O que difere o IGP-M/FGV e o IGP-DI/FGV é que as variações de preços consideradas pelo IGP-M/FGV referem-se ao período do dia vinte e um do mês anterior ao dia vinte do mês de referência e o IGP-DI/FGV refere-se a período do dia um ao dia trinta do mês em referência.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Empregos e Salários - 1º trimestre 2014 

Autores: Daniel Pereira dos Anjos, Eliezer Cristino de Oliveira Junior e Tales Lins Costa
Orientador do Subgrupo: Prof. Maurício de Souza Sabadini

No primeiro trimestre de 2014 o IBGE somente havia divulgado os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A PNAD Contínua, de publicação trimestral e criada para substituir a PME, foi suspensa no início de abril devido a questionamentos sobre a nova metodologia. A PNAD Contínua abrange 20 regiões metropolitanas, enquanto a PME se restringe às regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre.
As mudanças da PNAD Contínua alterariam a distribuição de recursos aos estados brasileiros por meio do Fundo de Participação dos Estados, gerando descontentamentos diversos. As novas regras do Fundo modificaram um dos critérios de divisão, substituindo o indicador de PIB per capita por Renda Domiciliar per capita, o que na prática renderá uma parcela maior do Fundo para os estados mais populosos e que possuem mais famílias pobres.
De acordo com o IBGE, por meio da PME, a população economicamente ativa, formada pelos contingentes de ocupados e desocupados, foi estimada em 24,1 milhões de pessoas no mês de abril de 2014. Em relação ao mês anterior, a variação foi considerada estatisticamente insignificante pelo Instituto, mas é percebida uma leve e contínua queda do número absoluto da PEA desde outubro de 2013 que saiu de 24.549 para 24.114 pessoas.
A taxa de desemprego em abril, no conjunto das seis regiões pesquisadas, foi de 4,9%, um declínio de 0,1 ponto percentual em relação a março deste ano e de 0,9 ponto percentual em relação a abril de 2013. A taxa reflete a estimativa de 1,2 milhão de pessoas desempregadas. De acordo com a tabela abaixo é possível notar uma alteração no comportamento da taxa em relação ao ano anterior. No decorrer de 2013, a taxa de desemprego tendeu a aumentar. Um dos possíveis motivos deste aumento deve-se ao fim dos contratos de trabalho temporários de fim de ano. Mas, em 2014, a taxa passa a declinar gradualmente, mesmo que pouco, a partir de fevereiro.
  


De acordo com a análise do Coordenador de Trabalho e Emprego do Instituto, Cimar Azeredo Pereira, essa queda se dá, em parte, não pela geração significativa de mais postos de trabalho, mas pela diminuição do número de pessoas à procura de trabalho. Foi observado que cerca de um terço dessa população, também chamada de inativa, é formada por jovens. 
O rendimento real médio dos trabalhadores foi estimado em R$ 2.028,00 para o mês de abril nas regiões pesquisadas. Em relação a janeiro de 2014, a variação foi estatisticamente desprezível, mas o rendimento foi considerado 2,6% maior em relação a abril do ano passado.
Já a taxa, calculada pela PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em parceria com a Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados), nas Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo, é dividida em dois tipos: Desemprego Aberto e Oculto. Este último se divide em outros dois subgrupos, o desemprego oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo desalento.



Entre os meses de janeiro e março de 2014, a taxa total de desemprego subiu de 9,5%, em janeiro, para 11,0%, em março. O maior responsável pela elevação desses índices foi a taxa de desemprego aberto, que variou 1,3 p.p. nesse primeiro trimestre de 2014. Esse aumento deveu-se, principalmente, pela dispensa de trabalhadores temporários no comércio, que foram contratados para atender ao aumento de vendas no final de 2013. Já a taxa de desemprego oculto permaneceu contínua nos meses de janeiro a fevereiro, subindo 0,1 p.p. no mês de março. Quando comparamos março de 2013 a março de 2014, a taxa de desemprego oculto reduziu de 2,5% para 2,2%. A taxa de desemprego total de março de 2013 foi de 10,9%, 0,1 p.p. menor do que a taxa desse ano.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) é elaborado e divulgado pelo Ministério do Trabalho, onde é utilizado dados enviados pelas empresas que contratam empregados sob o regime da CLT, e a partir desses dados é possível realizar pesquisas e estudos sobre o mercado de trabalho, assim como subsidia o governo para tomada de decisões. Quem deve declarar? Todas as empresas que contratam empregados com carteira assinada, ou seja, aqueles que estão submetidos ao regime da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Qual o prazo? Até o sétimo dia do mês subsequente ao mês de referência. Empresas com 20 ou mais funcionários devem enviar o formulário CAGED através do certificado digital. Mais informações disponíveis em: portal.mte.gov.br/caged/
O CAGED trabalha com o saldo total de admitidos e desligados (aposentados, demitidos e falecidos), logo, a ideia que se tem aqui é de fluxo. Observa-se abaixo como foi a evolução do saldo no primeiro trimestre de 2014. Foram selecionados os setores que tiveram variações mais significativas. O saldo total no final da tabela refere-se não apenas à soma dos setores listados, e sim à soma de todos os setores que compõem o cadastro geral, incluindo os que foram excluídos desta análise.


No mês de janeiro, o setor do comércio apresentou o maior saldo negativo. Isso já era esperado devido ao fim dos postos temporários criados para suprir a demanda das compras de fim de ano. Já o desaquecimento do comércio no mês de março, que apresentou saldo negativo de 26.251, materializa a intenção do consumo das Famílias (ICF), que diminuiu em decorrência do aumento do endividamento, encarecimento do crédito pós-aumento da Selic, entre outros fatores, avalia a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fonte desta explicação. 
Em contrapartida, o setor de serviços apresentou os maiores saldos, contribuindo com 67,69% do saldo total do acumulado entre janeiro e março/2014. Destaque para o mês de fevereiro, quando a diferença entre admitidos e desligados registrou 143.345 empregados. As contratações no subsetor de ensino lideraram o ranking entre os subsetores, com saldo de 48.813. Em seguida o subsetor de serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção e redação com 36.377 postos de trabalho.
Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o setor comércio apresentou saldo negativo de 74.712 contratações, número maior que em 2014, apresentando variação de 13,82%. Em relação ao ano de 2013, o saldo total de empregos teve um crescimento de 14,62%.  A variação do setor de serviços foi algo em torno dos 30%. Com estes dados, percebe-se que no primeiro trimestre do ano, no Brasil, o número de admitidos está superando o número de desligados.
  

No Espírito Santo, assim como no Brasil, os saldos no comércio não foram muito animadores, mostrando um maior número de desligados do que admitidos nos meses de janeiro à março. O saldo total, envolvendo todos os setores ainda foi positivo, registrando 2.989 admitidos a mais que desligados. Os reflexos de políticas monetárias são sentidos em todo território nacional, logo, não foi diferente no nosso estado, e, havendo recuo do consumo das famílias, houve recuo nas contratações no comércio.
O setor de serviços caminhou seguindo tendência nacional, registrando maior saldo no mês de fevereiro, apresentando um valor absoluto de 2.699. O subsetor ensino contratou nesse mês 1.922 trabalhadores e foram desligados apenas 814. A construção civil mostrou-se em desaceleração na medida em que saltou de um saldo de 933 em janeiro para 92 em março. Não se podem afirmar ao certo os fatores responsáveis pela queda na construção civil, se é um efeito do crédito ou se é algo sazonal, sendo necessária uma investigação mais profunda.



quinta-feira, 29 de maio de 2014

Boletim Nº. 50 - Março/2014 - Apresentação


A virada de 2013 para 2014 apontou um ambiente ao mesmo tempo festivo e apreensivo para as forças conservadoras do país. O dúbio tratamento da mídia em relação à Copa do Mundo, às comemorações dos 50 anos do golpe de 64 pelos militares e seus seguidores, aos 20 anos do Plano Real, são mostras de como tem sido o ânimo do momento. Mas, trata-se também da preparação para um ano eleitoral, em que as candidaturas mais citadas pela imprensa não apresentam nada de novo para o eleitorado, prometendo apenas remendos à política que se reproduz desde os tempos de FHC. A tática política parece ser a mesma de anos anteriores: fazer parecer que não há nada que se possa mudar de forma mais radical neste Brasil varonil e que nos resta apenas torcer para que tudo dê certo, mesmo quando tudo parece caminhar para o fracasso.

E por falar do golpe militar de 64, é bom lembrar que na época dos generais o ritmo era o mesmo. Embalados pela máxima de que o Brasil seria uma ilha de tranquilidade em mar revolto, tratavam os clamores das ruas como caso de polícia e avançavam autoritariamente no processo de endividamento nacional. Com os resultados, que só os militares e seus apoiadores de plantão não esperavam, as consequências do crescimento astronômico da dívida pública impõem agora as privatizações de empresas e de serviços públicos, na mesma balada em que dança qualquer perspectiva de se construir algum projeto de nação.

Muito ao contrário, a intensa desnacionalização do parque produtivo nacional está a pleno vapor. Seus resultados se expressam tanto nos indicadores de desempenho econômico como nos registros do Balanço de Pagamentos, que sequer pode contar na atualidade com o outrora badalado superávit na Balança Comercial. O que se vê nesses registros, na verdade, são apenas reflexos da entrega às grandes potências mundiais do comando sobre o destino de um volume gigantesco de riquezas naturais brasileiras, sem qualquer contrapartida real, pois a combinação da armadilha da dívida com a desnacionalização produtiva impõe uma intensa remessa de dólares ao exterior, na mesma direção em que segue o patrimônio natural do país.

Esta edição do nosso Boletim de Conjuntura procura avançar na elucidação desses disparates da economia nacional. E para isso, uma vez mais conta com a análise lúcida do Prof. Fabrício Augusto de Oliveira, uma das poucas vozes a apontar que, por trás da cantilena discursiva do empresariado e dos governantes, este país caminha a passos largos para o xeque mate da especulação absoluta.

Rumamos para o olho do furacão, com a nítida impressão de que vamos experimentar turbulências muito mais avassaladoras do que temos assistido acontecer com as, antigamente, sólidas economias da Europa. A economia brasileira, que nunca foi sólida, explicita agora a sua incapacidade em conduzir autonomamente sua política econômica. Isso é demostrado a cada item analisado neste Boletim, sem exceção, confirmando o quanto se perdeu de poder de decisão, no processo que procurou confundir internacionalizar com desnacionalização. Transferiram o patrimônio e, com ele, os centros de decisão sobre a variável fundamental: o investimento. Agora parece que há pouco mesmo a se fazer.

Boa leitura!

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