segunda-feira, 23 de junho de 2014

Nível de Atividade - 1º trimestre 2014

Autores: Cláudia Emília Bianchin, Elionai Rodrigues e Thais Mozer
Orientador do Subgrupo: Prof. Adriano Lopes Almeida Teixeira

Análise do PIB

No último resultado do PIB, divulgado no dia 30 de maio, o IBGE fez uma revisão das séries trimestrais de 2013. A alteração ocorreu na nova série de índices de produção industrial que foi elaborada baseada na pesquisa Industrial de Produção Física (PIM-PF) reformulada. Essa mudança metodológica passou a incluir novos produtos, recalculou os pesos dos setores dentro da produção total e aumentou o número de empresas que fornecem informações. Com isso, o PIB a preço de mercado de 2013 que apresentava uma variação positiva de 2,3% passou a ser 2,5%. As maiores alterações nos resultados são notadas no setor da indústria que teve um aumento (de 1,3% para 1,7%) sob a ótica da produção. Já sob a ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo apresentou queda, passando de 6,3% para 5,2%. Outros resultados alterados estão resumidos na Tabela 1.1.

Em relação aos dados divulgados pelo IBGE para o primeiro trimestre de 2014, o PIB manteve-se praticamente estagnado, com uma variação de apenas 0,2% em comparação com quarto trimestre de 2013. Em valores correntes, esse resultado foi de R$ 1.204,1 bilhões. Já em comparação com o primeiro trimestre do ano anterior, houve um aumento de 1,9%. Tal resultado indica que a economia brasileira está em desaceleração, a qual foi iniciada no terceiro trimestre de 2013. Os resultados do PIB acumulado (com ajuste sazonal) encontram-se resumidos no Gráfico 1.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega afirmou que muitos foram os fatores negativos que prejudicaram o desempenho do PIB, dentre eles: a seca, recuperação lenta da economia internacional, baixo crescimento da Europa, volatilidade cambial e aumento da inflação. 

Sob a ótica da produção, o setor de destaque foi a Agropecuária que obteve um aumento de 3,6% em comparação com o trimestre anterior (em valor corrente R$ 61,7 bilhões). Segundo o IBGE, a explicação desse desempenho está relacionada com alguns produtos que possuem safra significativamente relevante e pela produtividade durante o período, como a soja, arroz, algodão e fumo. Esse resultado surpreendeu, já que se esperava um crescimento menor devido às secas que aconteceram nessa mesma época. Nota-se que esse resultado acabou sendo contraditório com a explicação dada pelo Ministro da Fazenda, mostrando que parte do argumento dele não procede.
A indústria apresentou uma queda de 0,8% em relação ao quarto trimestre de 2013. Em valor corrente, o resultado foi de R$ 241 bilhões. O subsetor de construção civil teve uma retração de 2,3%, e o destaque foi eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, com um aumento de 1,4%. Esse último subsetor teve seu crescimento influenciado pelo calor forte que ocorreu durante o período, o que forçou a população a consumir mais energia. A indústria foi o setor que travou o crescimento do PIB no primeiro semestre de 2014.
O setor de Serviços teve uma variação positiva de 0,4% em comparação com o trimestre anterior. Vale destacar que o subsetor de comércio teve uma queda de 0,1%, se mantendo praticamente estável em relação ao período anterior. 
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias sofreu uma queda de 0,1% se comparado com o quarto trimestre de 2013. Em valor corrente o resultado foi de R$ 788,6 bilhões. Esse consumo tem um impacto grande sobre o PIB, já que representa cerca de 65% desse índice. Tal resultado não é de se surpreender, já que o Brasil passa por um cenário macroeconômico de inflação alta (reduz o poder de compra da população). Em relação ao mesmo trimestre de 2013, houve um aumento de 2,2%, que é explicado, de acordo com o IBGE, pelo fato de que os salários obtiveram um aumento real de 4,0% no primeiro trimestre de 2014.  
A formação bruta de capital fixo teve uma variação negativa de 2,1%, correspondendo a R$ 213,1 bilhões. Em comparação com o mesmo trimestre de 2013, a variação negativa foi de 2,10.
Já o consumo do governo teve uma variação positiva de 0,7% (R$ 242,7 bilhões em valores correntes). Em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, ocorreu um aumento de 3,4%.


Um dado a se destacar é taxa de investimento que ficou em 17,7% do PIB, abaixo do observado no mesmo período de 2013 (18,2%). Somado a isso, a taxa de poupança, que é um bom parâmetro para medir a capacidade de investir, ficou em 12,7% ante aos 13,7% do mesmo período do ano anterior. Esses resultados são bastante preocupantes, e põem a dúvida se o Brasil terá condições de crescer com uma taxa de investimento baixo.  
Com um cenário de política monetária contracionista, demanda externa menor e incertezas políticas gerada pelas eleições, não se pode esperar que de fato ocorra um crescimento significativo nos próximos trimestres de 2014. Não é a toa que a ONU reduziu a expectativa do PIB de 2014 para 1,7%, sendo que antes a expectativa era 3,0%. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também reduziu suas projeções de 2,2% para 1,8%, que é igual a do FMI. Já o Banco Central espera um crescimento mais otimista de 2,0% e o governo espera 2,3%. 

Indústria Nacional

Com a nova metodologia implementada pelo IBGE, em maio de 2014, registrou-se um aumento na produção industrial do ano de 2013, passando de um crescimento de 1,2% para 1,7%. 
Referente ao índice acumulado do período de janeiro a março de 2014, em comparação com igual período do ano anterior, a indústria nacional teve uma variação positiva de 0,4%.


Os setores que influenciaram negativamente no desempenho da indústria nacional no primeiro trimestre foram produtos de metal (-7,7%), produtos têxteis (-5,3%), máquinas, impressão e reprodução de gravações (-4,8%), aparelhos e materiais elétricos (-4,6%), couros e calçados (-3,6%), fumo (-3,5%), móveis (-3,7%) e outros produtos químicos (-1,2%). Outro setor apontado como responsável ao desempenho pífio da indústria é o automobilístico (-6,3%), podendo ser observado pela diminuição das vendas e o consequente aumento dos estoques. Esse resultado pode ser explicado, em parte, pelas medidas de restrição de crédito para o financiamento de carros devido à alta inadimplência registrada no ano anterior, contribuindo assim para a diminuição da produção.
Além disso, o setor de construção civil tem registrado poucos investimentos, representando uma diminuição nas obras de infraestrutura e na produção de bens de capitais e, também, contribuindo para a redução nos postos de emprego desse segmento. 
Por outro lado, os bens de consumo duráveis apresentaram resultados positivos (3,4%), dinamizados pela maior fabricação de eletrodomésticos da linha marrom, que pode ser explicado, em parte, devido a maior demanda de aparelhos de televisão com o advento da Copa do Mundo. Já o crescimento do setor de bens de consumo não-duráveis (2,8%) deveu-se notadamente pelo aumento na produção de medicamentos e gasolina automotiva.


Indústria Capixaba

O IBGE anunciou que a partir do mês de maio de 2014 foi implementada uma reformulação da série de índices mensais da produção industrial, elaborados com base na Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF). Essa nova metodologia é mais abrangente, passando de uma amostra de 830 produtos e 3.700 unidades locais para 944 produtos e 7.800 unidades locais. Dentre os objetivos previstos da nova metodologia estão compreendidos a elaboração de uma nova estrutura dos índices com bases em estatísticas industriais mais recentes, a fim de adequar-se à Classificação Nacional de Atividades Econômicas 2.0 e atualizar a amostra de atividades, produtos e informantes.
No índice acumulado do primeiro trimestre deste ano, frente a igual período do ano anterior, a produção da indústria capixaba teve um recuo de 4,0%. O principal setor que contribuiu para essa queda na produção foi o setor de metalurgia (-21,2%), seguida pelas indústrias de produtos alimentícios (-9,5%) e extrativas (-2,3%). O único setor que apresentou um resultado positivo foi o de minerais não-metálicos (12,3%), visto que a atividade de celulose, papel e produtos de papel apresentou uma produção constante (0,0%).


Comércio Nacional

Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio/IBGE, o volume de vendas do comércio varejista nacional após dois meses consecutivos de crescimento, apresentou, no mês de março, um decréscimo no ritmo de vendas de 1,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Essa queda pode estar relacionada com a redução dos dias úteis, tendo em vista que o carnaval esse ano foi em março e possivelmente ao aumento da inflação em alguns setores. A atividade Hipermercados, Supermercados, Alimentos, Bebidas e Fumo teve grande peso para essa variação negativa, que pode ter sido influenciada pelo aumento da inflação de alimentos. Em março, segundo IPCA, o grupo alimentação e bebida apresentou aumento de 1,92%.


No acumulado do ano, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 4,5%, enquanto a receita nominal cresceu 10,3%. A atividade Móveis e eletrodomésticos continua apresentando resultados positivos, apesar de uma significativa queda da atividade em relação a março/fevereiro, devido provavelmente à alta de preços no setor. Porém, o crescimento na atividade foi muito influenciado pelas compras antecipadas de televisores para a Copa do Mundo e subsídios do governo federal com o Programa Minha Casa Melhor   para compra desses produtos.
O comércio varejista ampliado, representado pelo comércio varejista mais os itens Veículos e motos, partes e peças e Material de construção apresentou no acumulado do ano crescimento de 2,1% no volume de vendas e crescimento de 7,2% na receita nominal. A atividade Veículos e motos, partes e peças apresentou um decréscimo de 3,8% no volume de vendas e uma queda na receita nominal de 1,2%, resultado muito influenciado pelas taxas negativas apresentadas no mês de março, onde a atividade teve o seu pior desempenho dos últimos 6 anos, registrado em 2008, período de crise mundial. Portanto, esse resultado pode ser atribuído ao aumento das alíquotas dos Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), ou seja, sua recomposição e uma maior restrição do crédito.
Por outro lado, a atividade Material de Construção no acumulado do ano apresentou crescimento tanto no volume de vendas quanto na receita nominal. A atividade desde o ano passado vem apresentando resultados positivos devido à continuidade das políticas governamentais para esse setor, como o aumento do limite do FGTS para financiamentos imobiliários, redução do IPI para alguns produtos.
Contudo, os resultados analisados na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostram que o crescimento no primeiro trimestre de 2014 não representa motivo para comemoração. O nível de atividade tíbio no comércio é um indicativo das condições e perspectivas pouco favoráveis para este setor, pois o alto custo de crédito faz com que o consumo perca a força influenciando diretamente algumas atividades que dependem do crédito. De acordo com os dados do Banco Central, em 12 meses encerrados em Março, o saldo de crédito com recursos livres cresceu 6,5%, porém em igual período do ano anterior o crescimento foi de 12%. Outro fator é a inflação que, em alguns setores de grande peso na taxa do varejo, também influencia para que a atividade não tenha um desempenho considerável.

Comércio Capixaba

 No acumulado do ano o comércio varejista do Espirito Santo apresentou crescimento de 1,1% no volume de vendas e de 6,6% na receita nominal. Porém, no comércio varejista ampliado os resultados foram todos negativos, com queda de 7,9% no volume de vendas e 3,6% na receita nominal. Dos estados brasileiros apenas quatro apresentaram variações positivas no comércio varejista ampliado, o que mostra que essa queda é uma tendência nacional. 
A atividade Hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo apresentou pior desempenho, enquanto a atividade Móveis e eletrodomésticos apresentou crescimento de 16%, indicando que o comércio capixaba vem seguindo a mesma tendência do comércio nacional em relação a atividades.
O mês de Março/2014 não apresentou resultados favoráveis para o Comércio Capixaba em relação ao volume de vendas que teve queda no comércio varejista de 4,3% e 13,1% no comércio varejista ampliado. Já a receita nominal do comércio varejista teve um crescimento de 1%.


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