segunda-feira, 23 de junho de 2014

Inflação - 1º quadrimestre 2014 

Autores: Hugo Rezende Tavares e Nathália Costa Azevedo
Orientador do Subgrupo: Profa. Renata Couto Moreira


Pelo terceiro mês consecutivo no ano de 2014, o IPCA apresentou trajetória crescente de forma acumulada em 12 meses (6,28%), apesar da sua breve redução registrada no mês de abril, quando foi observado um aumento de 0,67%, ante o dado obtido para o mês de março de 2014 de 0,92%. Os valores obtidos para os meses de fevereiro, março e abril já se mostram maiores que os dados obtidos para os mesmos períodos do ano passado (sendo estes respectivamente 0,60%, 0,47%, 0,55%) aumentando assim, preocupações quanto a capacidade do governo em manter a inflação abaixo do teto da meta para o ano de 2014. O índice acumulado no ano apresenta um valor de 2,86% frente a 2,50% observado no mesmo período do ano de 2013.

Entre os principais determinantes para o aumento da inflação neste ano de 2014, principalmente no mês de março, onde se observa uma disparada da alta do índice, destacam-se os grupos de alimentação e bebidas (que apresentou aumento de 1,92%) e transporte (cuja alta foi de 1,38%). No mês de abril, percebe-se uma desaceleração no índice destes dois grupos, sendo que o grupo de alimentação e bebidas apresenta aumento de 1,19% e transporte, de 0,32%.
Em relação às políticas econômicas do Brasil, notam-se claras tentativas do governo de conter o processo inflacionário. A inflação é um fator que vem sendo utilizado, de forma superestimada, para constantemente criticar o atual governo. Medidas de curto prazo vêm se destacando como ferramentas para frear as taxas de inflação. Já no início de 2013 o governo apresentou uma inversão da sua política monetária voltando a aumentar a taxa de juros. Desde em então, o aumento da taxa SELIC (hoje retornando aos dois dígitos de 11%) vem sendo usado como tentativa de conter o processo inflacionário que, no ano de 2013, já causava preocupações.
Apesar das declarações do governo de utilizar a taxa SELIC com o intuito de manipular a inflação, o governo tem tido sérias dificuldades em fazê-lo e não tem obtido o êxito esperado. Frente às dificuldades de conter a inflação, outra medida que vem sendo utilizada fortemente pelo governo neste quesito tem sido estratégias de políticas econômicas via taxa de câmbio. A utilização dos swaps cambiais tem sido fundamental em controlar a tendências de alta da taxa de câmbio. Desta forma, incentiva as importações e torna o nível de preços no Brasil refém dos níveis de preços internacionais.
Verificada esta alternativa, nota-se que o governo vem optando por realizar políticas de curto prazo para conter a inflação. Em conjunto, estes dois fatores expostos, permitem ver uma série de complicações para a economia brasileira, como o sufocamento da indústria nacional. Percebe-se o trade-off que o governo tem se mostrado disposto a fazer, abrindo mão de possíveis desenvolvimentos de longo prazo para apresentar benefícios de curto prazo.
Deve-se ter em mente que o ano de 2014 é um ano eleitoral. Isto sugere que medidas anti-inflacionárias serão implantadas constantemente no Brasil, visto que este tem sido propagado como o ponto fraco do governo Dilma. Medidas comprometendo a política fiscal, por exemplo, no caso de impostos indiretos, mais especificamente impostos sobre bebidas alcoólicas estão sendo adiados para evitar o repasse deste para os consumidores, “contendo” então o processo inflacionário. Esta questão é interessante pois o quesito de alimentação e bebidas têm contribuído com maior peso para o aumento de preços no Brasil.
Outro ponto bastante importante a ser considerado também, é que os grandes eventos a serem realizados, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, podem vir a contribuir fortemente para o aumento dos índices gerais de preço no mesmo ano. Portanto, as estratégias do governo estão se mostrando cada vez mais claras e convergindo para este ponto. Embora sem muito sucesso, uma das principais metas do governo Dilma para 2014, ainda é manter a taxa de inflação abaixo do teto da meta inflacionária. 
O INPC, indicador analisa o processo inflacionário, considerando famílias com rende entre 1 até 5 salários mínimos (diferentemente do IPCA que abrange famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos) apresenta dados com trajetória bastante parecida com os do IPCA. Mantendo-se relativamente estabilizado em janeiro e fevereiro (respectivamente 0,63% e 0,64%), a alta no mês de março parece ter afetado os mais diversos indicadores de inflação, elevando este índice para 0,82% e desacelerando de forma tímida no mês de abril para 0,78%.  Embora o acumulado em 12 meses do INPC se apresente menor que o IPCA (5,81% ante 6,28%), o índice acumulado no ano do INPC se mostra maior que o observado pelo IPCA. Ou seja, pode-se deduzir disto que as famílias de menores rendas estão sofrendo um impacto relativamente maior com a alta dos preços.
O IGP-DI dos quatro primeiro meses do ano está na casa de 3,1%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,76%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-DI, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,27%, acima do índice em 2013 que foi 2,58%.
2. IPA acumulado em 3,3%, novamente, acima de 2013 que foi de -0,18%.
3. INCC acumulado em 2,37%, contrapondo-se com o 2,49% do mesmo período do ano passado.
Fica claro que houve aumentos em dois dos três componentes do IGP-DI, sendo que a maior alta é diferença é do IPA e, como a ponderação dele é de 60%, acaba puxando o IGP-DI para cima.


Em relação a cada componente individualmente, o IPA foi o que teve a alta mais substancial, mostrando que há pressão sobre os preços dos custos de produção e, comparando com o IPC, vê-se que a pressão inflacionária localiza-se mais pelo lado da oferta do que da demanda. 
Observaram-se efeitos da taxa de câmbio sobre o IPA. Houve uma trajetória ascendente durante janeiro e fevereiro, culminando em R$ 2,4283. Durante fevereiro o real valorizou um pouco, mas nunca deixando a casa de R$ 2,30. Em março e abril, o real continuou numa trajetória de valorização. E esse vai-vem da taxa de câmbio coincide muito bem com a trajetória do IPA, mostrando que esse é um fator que esta dificultando o setor produtivo, fazendo a indústria perder a competitividade.
Há ainda outros fatores a serem considerados quando se trata do resultado do IPA, como o Decreto nº 8.166 de 23/12/2013 que reajusta o salário mínimo à partir do dia 1º de Janeiro de 2014 para R$724,00; isso causa um grande impacto na folha de pagamento das empresas.
O INCC foi o único que teve uma tímida redução, mostrando que os incentivos feitos pelas políticas fiscais ao setor de construção civil, numa tentativa de aquecê-lo, estão surtindo efeitos nos preços.

O IGP-M dos quatro primeiro meses do ano está em 3,31%, bem acima do acumulado do mesmo período do ano passado (0,99%). Nesse contexto de alta expressiva, ao analisar os fatores que compõe o IGP-M, no acumulado do período, tem-se:
1. IPC acumulado em 3,21%, contra 2,60% de 2013.
2. IPA acumulado em 3,30%, bem acima do 0,21% no ano passado.
3. INCC acumulado em 2,37%, menor que os 2,53% em 2013.
Analogamente ao IGP-DI, tem-se como destaque o IPA, que apresenta a mesma ponderação do IGP-DI.


Pode-se atribuir às mesmas causas do aumento do IPA-M as causas descritas no IPA-DI, pois à principio, não foi observado nenhum fator relevante no período de coleta dos dados. O comportamento de ambas as curvas são semelhantes. O mesmo vale para os demais componentes, pois seus valores se encontram próximos.

NOTAS METODOLÓGICAS
O IGP-DI é um índice calculado pela Fundação Getúlio Vargas e é divulgado mensalmente.  O índice é composto por três outros índices: IPA, IPC e INCC.  O Índice de Preços no Atacado (IPA) e mede a variação dos preços varejistas. O IPA corresponde a 60% do IGP-DI. Também é formado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede a variação de preços entre as famílias. O IPC corresponde a 30% do IGP-DI. Por último, o Índice da Construção Civil (INCC) que mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando tanto materiais como mão de obra.
O IGP-M analisa os mesmos índices de preços consideradas no IGP-DI/FGV, ou seja, o Índice de Preços por Atacado (IPA), que tem peso de 60% do índice, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% e o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), representando 10% do IGP-M.           
O que difere o IGP-M/FGV e o IGP-DI/FGV é que as variações de preços consideradas pelo IGP-M/FGV referem-se ao período do dia vinte e um do mês anterior ao dia vinte do mês de referência e o IGP-DI/FGV refere-se a período do dia um ao dia trinta do mês em referência.

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