domingo, 30 de outubro de 2011

Mercado Cambial e Refeições

Luiz Otávio Stefanelli Potsch

Todos nós sabemos que nosso famoso tripé de política macroeconômica – metas de inflação, ajuste fiscal e câmbio flexível – nunca foi cumprido à risca. Os índices de preços têm apresentados, sistematicamente, valores acima dos 4,5%, meta-centro, e são recorrentes as “mágicas contábeis” no intuito de alcançar os níveis de superávit primário prometidos. No entanto, o pilar do tripé que tem passado mais longe de ser cumprido é, sem dúvida, o do câmbio.

Faltam dedos nas mãos para listarmos todas as formas de intervenção que o governo e o Banco Central têm usado no mercado cambial. Compras de divisas no mercado a vista, no futuro, swap cambial, swap reverso, IOF para o movimento de capitais, taxação para dívidas no exterior, entre outras medidas, as chamadas “macroprudenciais”.

A taxa de câmbio é uma variável importantíssima no jogo comercial e financeiro dos países e, nesse sentido, é natural que nossas autoridades sofram pressões de todos os lados para mantê-la em patamares demandados. O que observamos, com isso, é que o regime cambial brasileiro deixou cada vez mais de ser flutuante sujo e tornou-se uma espécie de sistema de bandas cambiais, com a taxa girando em algo em torno de R$ 1,50 e R$ 2,30 por dólar.

Não defendemos, aqui, que esse mercado deva ser livre de toda e qualquer intervenção. Elevados volumes de capitais de curto de prazo em movimento e a conseqüente ampla volatilidade da taxa de câmbio são extremamente danosos ao ambiente econômico, seja em qual for o canto do mundo.

No entanto, como todo bom economista deve reconhecer, não existe almoço grátis. Assim, da mesma forma em que não é possível ficarmos com o dinheiro e o almoço simultaneamente, não podemos segurar o câmbio em patamares desejados sem que haja uma perda da credibilidade da política macroeconômica, com prejudiciais conseqüências futuras ao mercado cambial.

Uma evidência disso é a recente desvalorização sofrida pelo Real. Só no mês de setembro a taxa de câmbio em relação ao dólar subiu de R$ 1,58 chegando a R$ 1,90, um aumento por volta de 20%. No entanto, o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, mostra que o dólar sofreu uma valorização de apenas 5,17% no mesmo período. Observamos, assim, que, em cenários de elevada aversão ao risco, a baixa confiabilidade do investidor estrangeiro nas autoridades de política do Brasil com relação ao respeito às instituições do mercado tem causado “derretimentos” maiores da moeda brasileira vis-à-vis aos ativos monetários de outros países.

Diversas medidas discricionárias com relação ao câmbio e outras variáveis relacionadas ao comércio exterior têm sido adotadas no alegado intuito de proteger a indústria nacional. Isso traz, ao fim e ao cabo, negativas conseqüências à credibilidade da política econômica do Brasil. Nossas autoridades devem tomar cuidado para que os remédios utilizados não se tornem piores do que a doença. Nosso governo, infelizmente, tem dado pouca atenção, no manejo de seus instrumentos, ao quesito refeições gratuitas...

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