quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O mundo não é uma ilha.

Rayssa Bolelli

O clima na zona do euro é de incerteza. Enquanto os países da União Européia (principalmente França e Alemanha) discutem um segundo pacote de ajuda a Grécia, e o governo grego anuncia só ter dinheiro para operar até meados de novembro, há uma grande tendência de que,independente da aprovação deste pacote, o calote grego seja inevitável. Porém, mesmo não resolvendo o problema, esta segunda ajuda daria tempo para uma possível retomada de confiança de economias em risco, como as da Espanha e Itália, evitando assim que um possível calote da Grécia induza há um calote destes países, o que agravaria ainda mais a crise.

Contudo, os temores da crise não são sentidos apenas pelos EUA e por países pertencentes à zona do euro. A desaceleração das economias européias afetou o preço das commodities, e países que as tem como principais pautas de exportação, já começam a sentir os efeitos da crise. No Chile, por exemplo, na exportação de seu principal produto,o cobre, houve uma queda de 25%, e apesar da contínua ascensão econômica, haverá uma desaceleração neste segundo semestre. Já no Brasil a expectativa é outra. Espera-se que a queda no preço das commodities ajude a reduzir a inflação.

Ao analisar a crise por esta ótica, esquece-se novamente de um fator crucial no mundo atual, nada é tão dependente assim de apenas um fator. Assim como não somente a Europa e os EUA sentem os efeitos da crise em países como Grécia e Portugal, os preços das commodities brasileiras não são inteiramente dependentes do mercado europeu e estado-unidense. Há de se levar em consideração o importante papel da China nas importações de commodities metálicas e relacionadas a energia, que hoje correspondem a 40% e 18% respectivamente. Quanto as commodities agrícolas, o recente World Economic Outlook (WEO) arrisca a previsão de uma recuperação nos preços, devido a fatores como os baixos estoques, condições climáticas imprevisíveis e peculiaridades locais dos países produtores.

Portanto, os dados só confirmam a atmosfera de incerteza vigente. A queda das bolsas em todo o mundo, a emigração em massa de europeus para suas antigas colônias, os recentes protestos em Wall Street, as contradições e incertezas dos mercados... Todos estes fatos mostram que não há como fazer apostas sólidas para o futuro. Esta crise está mudando não só as dinâmicas econômicas, mas também sociais. Não há como saber quais previsões se confirmarão. Na atual configuração mundial nenhum país é isolado o suficiente para não ser afetado por estas mudanças. Deste modo é insensato para o Brasil fazer políticas com base puramente em algum destes palpites. O momento é para ações rápidas, concretas e lúcidas, e não para jogos de azar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário